quinta-feira, 31 de dezembro de 2009
Análise
O cubo não fere a vista, não se mexe, apesar de estar apoiado num só vértice. Era para ser chato e apoiado numa face, mas não. É assim mesmo, desafiando a lei da gravidade.
Um escadote de madeira algures entre o meio e o lado direito do cubo tem ar de ser pesado mas não sei. É de madeira. O metal fere os olhos. Está apoiado para ir ao pico mais alto do cubo. Tem cerca de 15 degraus, sendo o espaço entre cada um irregular.
O cavalo podia estar a suportar o cubo mas não. Está a olhar para a cena surreal.
Um tapete de flores cobre uma face do cubo. Ou por dentro, ou por fora.
Breve tempestade. Uma bátega de água que rapidamente desaparece. A chuva é chata. Não a quero para nada.
quarta-feira, 30 de dezembro de 2009
quarta-feira, 23 de dezembro de 2009
segunda-feira, 21 de dezembro de 2009
sexta-feira, 18 de dezembro de 2009
Lisbon revisited (1926) | Álvaro de Campos
Nada me prende a nada.
Quero cinquenta coisas ao mesmo tempo.
Anseio com uma angústia de fome de carne
O que não sei que seja -
Definidamente pelo indefinido...
Durmo irrequieto, e vivo num sonhar irrequieto
De quem dorme irrequieto, metade a sonhar.
Fecharam-me todas as portas abstractas e necessárias.
Correram cortinas de todas as hipóteses que eu poderia ver da rua.
Não há na travessa achada o número da porta que me deram.
Acordei para a mesma vida para que tinha adormecido.
Até os meus exércitos sonhados sofreram derrota.
Até os meus sonhos se sentiram falsos ao serem sonhados.
Até a vida só desejada me farta - até essa vida...
quinta-feira, 17 de dezembro de 2009
segunda-feira, 14 de dezembro de 2009
Episodio XXV - bocado de verão
Estrelas, muitas.
Álcool à mistura.
Imensa gente e
loucura profunda e
As cores são laranjas, azuis, brancas e negras.
Muitas saias coloridas e
muitos pés descalços.
Em círculos, pelo meio das pessoas, aproximam-se.
Episodio XXIV - Aquele momento
em contraste,
acaba bem.
mas
de escuridão enganada pelas luzes imensas.
Dois grupos se movem sem se saber pelo meio de tudo.
Feminino e masculino.
O mesmo passo.
Multidões. Confusões. Encontrões.
Breve clareira.
Tic.
Duas caras sérias se cruzam. Iam velozes. Reconhecem-se. Espantam-se.
Tac.
Ela, de costas pela direita se volta ainda em passo rápido.
Olhar (sur)preso.
Ele, virou-se de frente.
Olhar intrigado.
Eixo invisível entre eles que atrai.
Tic.
Mais ninguém parece (re)parar.
O resto do grupo feminino ainda tenta chamar e perceber.
O resto do grupo masculino ainda tenta abrandar e perceber.
Tac.
Os vultos brancos e negros misturam-se. Pó em todo o lado.
Tic.
Percebem. Tudo...
Deixaram de perceber. Não faz sentido.
Tac.
Separam-se.
Ela vira costas como se retomasse os seis segundos perdidos.
Ele dá um passo atrás para recuperar o equilíbrio enquanto a vê a afastar, incrédulo, quebrando o movimento com outro passo decidido a recuperar os seus sete segundos.
Nada se passou.
Tic.
O contraste absoluto.
Ninguém acaba raciocínios.
Todos continuam a dar, passo por passo, a sua batida forte.
Não se vêm mais pela noite.
Nem sabiam que se iam encontrar.
ben harper | God Fearing Man
Listen mister brother sister family and friend
I fear with each day pass our time grows closer to the end
listen stranger passer by and those I never knew
there's not one day that you are living has been promised to you
I am a God fearing man
I'm a God fearing man
I reach out for my God's hand
I'm a God fearing man
listen mother sister brother relatives and kin
you want to know just where you're going you got to know where you've been
tell me what gives one the right to say their God is better than anybody else
don't we all have a right to find God for our self
I am a God fearing man
I'm a God fearing man
I reach up for my God's hand
I'm a God fearing man
when I rise with the morning sun I give thanks to my God
for the gift of another one and when my day is over and complete
I reach to my God to put me back on my feet
I am a God fearing man
I'm a God fearing man
I reach up for my God's hand
I'm a God fearing man
domingo, 13 de dezembro de 2009
sábado, 12 de dezembro de 2009
sexta-feira, 11 de dezembro de 2009
Venha daí
Venha daí o próximo olhar decidido, a paixão ardente, o jogo de corpos sedutor. Venha daí a vontade do ligeiro toque, da tensão que queima, do beber de cada palavra, da fragilidade quente e carinhosa que acompanha. Esse tango dançado por dois. ágeis. inquebráveis. altivos.
Um riso de rico.
O conforto da segurança de uma mão firme em corpo de mulher.
domingo, 6 de dezembro de 2009
segunda-feira, 30 de novembro de 2009
The Secret Garden + Alhambra
Mary: [pointing to the Robin] He wouldn't tell you my secret, would he? About what, Miss Mary?
A garden. I've stolen a garden.
Promise you won't tell anyone? Promise.
No one?
Not a soul.
Colin: Are you making this magic? No, you are. Just like in the story.
It's like the whole universe is here in this garden.
Can I have a bit of earth?
Lord Craven: A bit of earth? To plant seeds in.
To make things grow.
domingo, 29 de novembro de 2009
Radiohead | no surprises
A job that slowly kills you
Bruises that won't heal
You look so tired and unhappy
Bring down the government
They don't, they don't speak for us
I'll take a quiet life
A handshake of carbon monoxide
No alarms and no surprises
No alarms and no surprises
No alarms and no surprises
Silent, silent
This is my final fit, my final bellyache with
No alarms and no surprises
No alarms and no surprises
No alarms and no surprises please
Such a pretty house, such a pretty garden
No alarms and no surprises (let me out of here)
No alarms and no surprises (let me out of here)
No alarms and no surprises please (let me out of here)
Michele Bombom Bacci
vejo
que pensas.
murmuras mudo
e em silencio
os teus pensamentos.
um cigarro
e um travo
indecifrável.
tacitúrno.
terça-feira, 24 de novembro de 2009
segunda-feira, 23 de novembro de 2009
domingo, 22 de novembro de 2009
corda
tensa
toco.
vibro
escuto
o som
m
o
n
ó
t
o
n
o
desta corda.
vicia
aliena.
podia ser de uma sapatilha
ou o tocar de um violino.
música não é
de certeza.
que hoje
não me sabe a nada
quinta-feira, 12 de novembro de 2009
quarta-feira, 11 de novembro de 2009
domingo, 8 de novembro de 2009
mar
cada dia tem milhares de gotas
partículas frias
molhadas
pequeninas
que nos enchem.
que o fazem.
que o constrói.
As últimas são as piores.
São as da paciência.
Há que aguentar firme.
E apoiar nos barcos que passam.
A vida continua.
sábado, 7 de novembro de 2009
quarta-feira, 4 de novembro de 2009
terça-feira, 3 de novembro de 2009
poema bilingue
pensando en ti.
Me quedo
Me sueño
Me salgo.
Pido por ti. Quedate
aqui.
te quiero.
um postal descai
preso por um pedaço de bostik.
não gosta.
chama
por uma mola.
sussurra
Me voy.
quebrem a monotonia
sonhos e sorrisos risonhos
e surpresas inconciliáveis.
impunível sonhar assim
impossível sentir assim
...ível ficar assim.
segunda-feira, 2 de novembro de 2009
Relações
Compreensão
Aceitação
Respeito
Confiança
Compromisso
Qualidade
Engraçado que qualquer um diria que estas palavras descrevem relações. Na verdade, foram nestas palavras que Alex Róvira analisou as necessidades da economia.
eu é que as aplico às nossas relações pessoais.
cabeça
coração
acção
Cabeça sem coração é frio.
Coração sem cabeça é impulsivo.
Acção sem cabeça nem coração não é acção.
sexta-feira, 30 de outubro de 2009
terça-feira, 27 de outubro de 2009
a.perfeição e a.prisionamento
Hoje, numa conferencia sobre a economia e a crise o sr. Alex Róvira falou que um sujeito que me esqueci de apontar o nome fez uma experiência com cobaias tipo ratos, imaginem.
Encheu um alguidar com água sem pedras e pôs dois ratos e encheu outro com duas pedras mas com leite, de modo a que os ratos não vissem o fundo.Aqui percebi tudo.
No primeiro caso, os ratos lutavam para respirar acabando por desistir e deixarem-se afogar, no segundo caso os ratos sentiam o apoio da pedra de modo que quando não a sentiam iam procurá-la.
Depois, pegou nos ratos de ambas as taças e pô-los num alguidar com água sem pedras e descobriu que os que estavam habituados às pedras sobreviviam mais tempo que os outros.
Sou perfeccionista e só agora sou assim porque só agora é que me tornei melhor.
Fui educada, treinada, disciplinada a dar o meu máximo e a dar o melhor e a lutar por mim só. Também fui ensinada a pedir ajuda quando necessário mas vejo-me num dilema em que penso: "eu tenho (!) de conseguir fazer isto!" A ideia de falhar ou desiludir é insuportável.
Stresso por causa disto, stresso com pouco porque não me dou ao luxo de perder, falhar e/ou desiludir ninguém, porque me afecta tanto. (Porque me afecta tanto?)
Sou obrigada a ser perfeccionista, no que faço, e ultimamente como ando a tirar boas notas tenho "uma reputação" a manter.
O mais estranho e é o cerne da questão é que eu sei que tenho o apoio de todos.
A minha família e os meus amigos nunca me iria abandonar mesmo que falhasse nalguma coisa, ou tirasse má nota. Ninguém me iria apontar o dedo porque sempre dei o melhor que soube, sempre me esforcei e não é por não tentar que isso tal aconteceu.
Mas é mesmo esta pressão deste apoio todo que me leva ao extremismo (se necessário).
A culpa não é de ninguém senão minha! Está tudo na minha cabeça e eu sei que soa mal mas a verdade é que sinto-me tão apoiada que não me sinto apoiada.
Faço-me entender?
segunda-feira, 26 de outubro de 2009
Coisinha de nada...
Por exemplo:
Uma caixinha pequenina da Tridente. É uma caixinha pequenina de cartão. Que mal poderá ter?!
A caixa é feita de cartão. Tudo bem, é reciclável. Mas e os custos e gastos que a reciclagem necessita? Ainda por cima não é apenas um rectângulo; tem cortes. Cortes esses produzidos por uma máquina que custa dinheiro e consome montões de electricidade. E os desperdícios de papel que sobram do cartão não aproveitado? Pois.
E o envólucro de plástico transparente com o raio da fitinha amarela? E o corte que dão a esse plástico, uma coisa minúscula e frágil a ser feita com cuidado para ser mais fácil para nós abrir o pacote?
As cores.
Estou a olhar para um exemplar das tridente azuis. Supostamente só usaria o cartucho preto e azul. Fantástico.... Super barato... se o logótipo não tivesse o raio do dente vermelho.
Mais um cartuxo... Magenta. E por causa da Fundação Dental Espanhola e o seu maravilhoso logo com uma ondinha alaranjada obriga a utilização do cartuxo amarelo. E só aqui já vão rios de dinheiro.
Sem falar, claro, nas máquinas de impressão - consumo de energia e electricidade.
E as matérias-primas das quais se produzem as cores? E as máquinas para as produzir?
E a cola que aplicam? Não é quase nada mas mesmo assim é necessária. E o custo do aquecimento desta cola especial? Sim porque não usam a cola UHU normal, não é?...
Quase que nem me quero lembrar sem falar dos custos burocráticos e todas as minuciosidades necessárias a colocar na embalagem, cuidados a ter, símbolos de que se pode reciclar, por no lixo, código de barras, prazo de validade, etc, etc, etc!
E as exportações, se necessárias? A gasolina dos barcos, as taxas e tudo isso?
Não.
Um pacotinho de tridente não é uma coisa pequena.
Temos é de ver o que se fez para chegar ali.
Agora interpretem à vossa vontade às questões mais banais da vossa vida. Desmontem a caixinha da Tridente como eu e olhem com olhos de ver.
Uma coisa pequena nunca é nada.
Love Will Tear Us Appart
And ambitions are low.
And resentment rides high
But emotions won't grow.
And we're changing our ways
Taking different roads.
Then love, love will tear us apart again.
Love, love will tear us apart again.
Why is the bedroom so cold
Turned away on your side?
Is my timing that flawed
Every feeling run so dry?
Yet there's still this appeal
that we've kept through our lives.
And love, love will tear us apart again.
Love, love will tear us apart again.
Do you cry out in your sleep,
All my failings expose?
Gets a taste in my mouth
As desperation takes hold.
Why is it something so good
Just can't function no more?
And Love, love will tear us apart again.
Love, love will tear us apart again.
Love, love will tear us apart again...
tenho uma sopa de vagos e longínquos pensamentos
com letrinhas
bem pequeninas
e espalhadas
e bem quentes.
Daquelas que fazem bem à alma.
São sopas que muito nos fazem escrever
com a colher
mas que não nos dizem nada.
Escorrega-nos
por todo o lado abaixo
E desfazem-se
ao mínimo toque mais agreste.
Sim, são frágeis
estas sopas.
Não se vá mexer com a colher
porque mais misturados
estes amanteigados pensamentos
não poderiam estar.
domingo, 25 de outubro de 2009
Pausa
Irei em pezinhos de lã
para não acordar a cidade
Quem quiser que se junte a mim.
esteja onde estiver.
sábado, 24 de outubro de 2009
Espaço
Ou é demasiado grande ou demasiado pequeno.
Com demasiada luz ou pouca luz.
Com demasiado calor ou demasiado frio.
Ou está demasiadamente longe ou próximo demais. E toda a gente sabe que ninguém vê bem ao longe nem de perto.
Mas sempre se consegue transformar tudo em acolhedor. Excepto afastar quem nos invade o nosso espaço. Esse pode sofrer uma nódoa-negra ou duas.
O importante é tentar, e saber lidar com o espaço.
Mas o que fazemos quando nos sentimos sem um espaço onde estar?
Suspiro.
Por agora limito-me a admirar a janela reparada no meu quarto. Contemplo o novo espaço e luz que confere e abro uma frecha para que entre uma brisazinha para arejar este espaço vazio em que me encontro.
Malditas definições que me atrapalham e aprisionam a cabeça!...
segunda-feira, 19 de outubro de 2009
sábado, 17 de outubro de 2009
sexta-feira, 16 de outubro de 2009
O amor é feio
Tem cara de vicio
Anda pela estrada
Não tem compromisso
O amor é isso
Tem cara de bicho
Por deixar meu bem
Jogado no lixo
O amor é sujo
Tem cheiro de mijo
Ele mete medo
Vou lhe tirar disso
O amor é lindo..
O amor é lindo
Faz o impossivel
O amor é graca
Ele dá e passa
O amor é livre
O amor é livre
O amor é livre
O amor é livre
quarta-feira, 14 de outubro de 2009
domingo, 11 de outubro de 2009
oh, honey
I keep on changing
I keep on doing good
I keep on moving worlds
I keep on beeing FAB!
so don't you worry, baby,
life is as good as it gets!
terça-feira, 6 de outubro de 2009
melancolia
E por isso estou aqui.
Saudade.
Anos luz
e
velocidade.
En
ergia fren
ética
de
nostalgia.
Demasiado rápida para acompanhar.
É freguesa.
É verdadeira.
É portuguesa.
Tradicional por todo o mundo.
Só nosso.
Nosso meu.
Por hoje.
E apenas hoje.
(hoje
só.)
Ou um bocado de cada vez.
Nao se sabe
por cada;
por quanto,
quanto
tempo.
Perde-se.
Para os outros.
Com os outros.
Levam-na.
Que a levem
entao.
Que a leves.
Que a leves do meu coraçao.
domingo, 4 de outubro de 2009
sábado, 3 de outubro de 2009
sexta-feira, 2 de outubro de 2009
terça-feira, 29 de setembro de 2009
Environmental Product
Each one of us, each product, human and non-human has an impact on the environment.
We have the most negative impact on the environment because we built, and we destroy, and we change
everything.
And since we're always reproducing all kind of products, we keep on making more and more negative impact on the environment. Non-stop.
But
like everything,
we also have positive points.
We are the only products that have feelings.
And so,
we
are the onlyones that
care
about the environment.
One day,
Hopefully,
We we achieve the simplest form of life until nothing else can be done and everything would be perfect.
Except
When that time comes,
There will be no planet. Earth, Water, Fire or Air...
EVERYTHING CAUSES IMPACT ON OUR ENVIRONMENT.
because it belongs to everyone. eventhough to those products that don't live.
segunda-feira, 28 de setembro de 2009
a noite era tempestuosa.
Abstraí-me
enquanto olhava através
da janela semi-embaciada.
Apoiei o cotovelo no rebordo
e quando o toquei..
foi como se sentisse a gota que descia
do outro lado do vidro
frio no meu braço.
De (f)acto,
ali estava;
a sua sombra projectada.
Foi um olá obrigado do Outono chegado.
terça-feira, 22 de setembro de 2009
segunda-feira, 21 de setembro de 2009
segunda-feira, 14 de setembro de 2009
Episodio XXIII - Mão ao Pé
É como aqueles momentos em camas de hospitais.
Trata-se de um alguém que está deitado numa cama. E é velho. E está só. E não faz nada senão viver. E existe.
Mas é alguém que vai tendo as enfermeiras ao pé.
Umas que entram no seu quarto, a tagarelar sem um fim próximo e outras que sem mais nada agarram na sua mão a fazer festinhas como se fosse a tarefa das 16 horas da tarde.
Todas borradas de medo de fazer uma pergunta que seja sobre esse alguém porque sabem que é (mais um) velho deitado numa cama de hospital que não faz nada senão estar acordado e ter a consciência que apenas está a existir, praguejando a toda a hora na sua cabeça que o que mais lhe apetece é fugir dali p’ra fora.
Todas a arrastar a voz como que se fosse mais animador quando na verdade faz perder a paciência porque demora-se 3 minutos a ouvir algo de 30 segundos.
Todas com conversas do dia solarengo ou dos mexericos da vida nos corredores hospitalares sobre a médica que deixou cair o estetoscópio no chão e rachou a saia enquanto apanhava. Todas com discursos do mais puro nada a cumprir a tarefa das quatro da tarde.
Então esse alguém tem de fazer alguma coisa.
Então
espera por alguém.
Porque o que se quer é ter alguém.
Não importa o tempo que faz, o discurso que tem, a beleza que traz.
O que se quer é alguém que se chegue à nossa beira e que se faça sentir. Que não precise de dizer nada e que estenda a mão junto da nossa sem a tocar.
Porque sem uma palavra dizer, pergunta a esse velho que existe se quer alguma coisa.
Porque se ele quiser, ele que estenda a mão e que agarre.
Porque a companhia está lá. Está presente. É um presente.
Ele só precisa de a ir agarrando de vez em quando.
Umas vezes é um toque, outras, um simples poisar, um cruzar de dedos ou ser um forte aperto que nos toca até ao coração.
É como aqueles momentos em camas de hospitais.
Trata-se de alguém que está deitado numa cama. Mas que não é velho. Não está só. E que vive.
Faz mais que existir mas no entanto espera por alguém. Que se faça sentir. Que mostre a sua mão e o seu punho ao pé da mão e do punho dessa pessoa.
Para que seja preciso apenas agarrar quando é preciso, afastar os lençóis e ajudar a levantar da cama.
Depois disso vem um banho e tudo ficará melhor.
Episodio XXII - Creio
Estava deitada na praia. Estava com umas leggins meias molhadas da água quente do Mediterrânico sobre uma toalha meia dobrada, em cima da areia fina e fria e tanto me encanta. Mal via os meus amigos que no meio do negro da noite e o escuro do céu tomavam um banho nocturno.
Tentava abafar a música motar que rugia fortemente pelo areal adentro com o meu minúsculo ipod.
Pensava em ti.
Imaginava-me deitada sob o céu estrelado, que estava, mas numa clareira no meio de uma floresta com relva verde e molhada. Não sei porque é que, agora que tenho a praia que tanto queria, me ponho a querer agora uma erva verdejante.
Calada continuo deitada. Braço esquerdo sobre a minha barriga, braço direito atrás da nuca e joelhos para cima.
Deitas-te ao pé de mim, do lado esquerdo, com a cabeça na minha barriga. És o único que tem coragem para falar porque finalmente ouço a pergunta que me coloco tantas vezes.
- O que é que estás a fazer?
Podias ter perguntado em tom de descriminação. Podias ter posto um ponto de exclamação depois do de interrogação no final da frase. Podias ter acrescentado previamente um “mas que raio”. Podias ter medo de perguntar. Podias ter dado pausas. Podias nem saber do que estavas a falar. Mas era uma pergunta. Fizeste-a. E muito bem. E com toda a certeza do mundo. Algo que não tenho.
Estavas calmo.
Por mais desnorteada que seja essa pergunta, só o facto de a fazeres tranquilizou-me.
Creio que devo ter sorrido. Creio que nem me mexi. Creio que chorei.
Então creio que desviei um pouco a minha cabeça para a esquerda e para baixo, para poder contemplar um pouco o teu cabelo no meio da noite, a tua abstinência de agitação ao luar.
Quis te agradecer.
Quis que me abraçasses e me dissesses mil e uma coisas.
Queria continuar em silêncio.
Queria berrar “finalmente!”.
Então creio que sorri.
Porque não fiz absolutamente nada.
Porque não ia adiantar de nada.
Porque nem era preciso.
- Sei lá! Não faço a menor ideia.