quarta-feira, 30 de maio de 2007

Espelho

Ela pensa que é feliz...
...viva...
...saudável...

No fundo, ela não sabe quem é...
...no que se tornou...
...nem no que se pode tornar.

Ela pode desaparecer...

Ela não quer ver e acha-se despreocupada...
Mas no fundo vive como uma abelha atarefada...
Ela põe tudo à sua frente...
...tudo à frente para não ter de ser ver...
...para não pensar em nela...

Ela rejeita a realidade, a vida, os amigos...
...tudo porque pensa ser feliz e viva e saudável...



...mas não é.

quinta-feira, 24 de maio de 2007

La vie.


C'est trop vite! :)


quarta-feira, 23 de maio de 2007

Ela corre.




corre.
corre
Corre
Corre
CORRE.






Corre para se libertar.



Corre sem olhar para trás.

sábado, 19 de maio de 2007

Conto policial

Não!
Sim!

Não fez isso!
Fiz!

Quando?
Agora mesmo!

Onde?
No quarto.

Está morta?

Sim!

Porquê?!
Você sabe.

Não sei!
Sabe sim!

Infiel?

Sim.

Com quem?
Consigo.

Não!
Sim.

Ela não...
Fez sim.

Nós não...
Vocês, sim.

Sabia?
Sabia.

Há quanto tempo?
Bastante.

E agora?
Adivinhe.

Polícia?

Mais tarde.

Porquê?
Adivinhe outra vez.

Diga-me!

Olhe.

Oh, não!

Oh, sim!

Não pode fazer isso!

Posso!

Por favor!
Não suplique!

Perdoe-me!
Tarde de mais.

Santo Deus!
Adeus.
Telefonista.
Sim, senhor.
A polícia.

Guy Nedmon in 100 Contos Policiais.

quinta-feira, 17 de maio de 2007

She's a woman

É uma mulher.

Não é uma criança,

Nem adolescente nem infantil nem velha demais!

É mulher!

E é para se dizer alto e bom som!

Para que todos o saibam!

É uma mulher!!

Com orgulho!

E levanta pesos, e faz musculação e vota e trabalha e trata das fraldas sujas das crianças que dá à luz!

E passa a ferro as camisas de trabalho do homem e as suas também!

É uma.

É ela.

É mulher.

É mulher!!!!!!

Chega!

segunda-feira, 14 de maio de 2007

Passion

Com o olhar fixo e sedento fechou a porta com violência e com uma mão só. O estrondo foi seco e breve. Era um cubículo pequeno apenas com uma lâmpada pendente do tecto que abana ao mínimo toque. Olhavam-se muito seriamente. Ela com um vestido curto vermelho e sensual com uma alça já descaída no braço. Ele de chapéu cinzento, camisa branca com o colarinho desapertado e calças pretas. Os sapatos? Sabiam lá onde paravam!... talvez perdidos no chão do teatro... Num ápice, agarraram-se! Ele pegando-a pela coxa larga e macia e segurando o pescoço com os caracóis já meios desfeitos e ela, com uma mão no pescoço dele e com outra nas costas dele. A mão dele toca-lhe suavemente na perna. Sensualidade, excitação, desejo, ânsia, ardor, paixão! O cubículo parecia que tinha uma bomba-relógio emocional prestes a explodir. A celulite não o demovia. A pele dela era macia e branca. Ela esforçava-se para não ceder ao desejo. Agarrava cada vez mais o pescoço dele, o cabelo curto, o perfume de homem... AI! A Loucura! Arrancou-lhe o chapéu da cabeça. Pensou em mandá-lo ao ar mas pensou melhor. Pô-lo na sua cabeça e olhou-o sensualmente. Ele parou de a beijar para a olhar no seu esplendor. Era bela, mesmo não sendo uma super modelo, dentro deste cubículo onde a luz se mexe pela lâmpada que insiste em não parar quieta. Atacam-se ferozmente aos lábios um do outro. A bomba explodiu. As imperfeições não se notavam. Estavam cegos de excitação. E mesmo ali, em pé, no cubículo pequeno só com a lâmpada ele a possuiu. Penetrou-a com tanta força quanto amor ele nutria por ela. Onde está a vergonha nesta acção tão natural e própria do Homem? Porque inibirem-se? Para preconceitos e julgamentos já existe o mundo do outro lado de fora da porta do cubículo! Ali estava-se bem. Ficaram durante bastante tempo a saborear os cheiros característicos do acto, a saborear o momento, os miminhos... Ela com o chapéu dele na cabeça e ele com o baton dela nos seus lábios... No escuro ele murmura... Celui qui donne vite donne deux fois?

segunda-feira, 7 de maio de 2007

Nouvelle Vague - The Killing Moon

Nouvelle Vague - T...

Under blue moon I saw you
So soon you’ll take me
Up in your arms
Too late to beg you or cancel it
Though I know it must be the killing time
Unwillingly mine

Fate
Up against your will
Through the thick and thin
He will wait until
You give yourself to him

In starlit nights I saw you
So cruelly you kissed me
Your lips a magic world
Your sky all hung with jewels
The killing moon
Will come too soon

Fate
Up against your will
Through the thick and thin
He will wait until
You give yourself to him

Fate
Up against your will
Through the thick and thin
He will wait until
You give yourself to him

Under blue moon I saw you
So soon you’ll take me
Up in your arms
Too late to beg you or cancel it
Though I know it must be the killing time
Unwillingly mine
Unwillingly mine



(Faz-me lembrar carroséis e circo, o símbolo do teatro e filmes mudos à moda antiga...)

terça-feira, 1 de maio de 2007

Lua Adversa

Tenho fases, como a lua
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.

Fases que vão e que vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.

E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua...)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu...


Cecília Meireles