sábado, 26 de janeiro de 2008

Episódio X - dez centímetros por quinze

Era uma fotografia. Daquelas que parecem estrelas de cinema num cartaz publicitário de um filme famoso. Uma comédia romântica. O casal olhava-se, cada um na sua margem da fotografia. Do papel mate de dez por quinze centímetros. Ela do lado esquerdo e ele do lado direito. Ele era mais alto por isso obrigava-a a erguer a cabeça.
Olhavam um para o outro com sorrisos bonitos. Com sorrisos colgate. Parecia que era muito felizes e feitos um para o outro. Construir uma casa, uma família, uma vida par. Uma vida comum. A dois.
No entanto a verdade encontrouva-se noutra forma.
Conheciam-se, era um facto. E sim, eram reais e andavam juntos num relacionamento enraizado de sorrisos perfeitos para a máquina que captava a imagem mas não a realidade.
Os olhares eram paralelos.
Ela olhava para cima mas não o via. Via o que estava por detrás dele e ele olhava em frente.
Embora fossem os obstáculos físicos dos seus olhares paralelos e antagónicos, ambos pretendiam simplesmente continuar a andar.
Depois de uma vista bem dada, a fotografia que captou o tão ideal, o tão perfeito casal de sorrisos bonitos e abertos mostrava as vontades dos próprios de se quererem livres, de quererem ser meras colagens daquela vida, daquele sonho idealizado e presunçoso, daquela fotografia tão falsa. Uma vontade de serem juntos, uma simples montagem.
A culpa não era dela.
A culpa não era dele.
Não lhes interessava a vida perfeita para já. Eram jovens demais para se comprometerem em tamanha ilusão.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Amelia - La La Human Steps




Um filme de Edouard Lock

"There is no hope for logic. If you try to count up with a logical reason then
you might as well forget it beacause it doesn't deal with any kind of namable,
measurable situation. All dimentions seems lost in the process. In other words,
you are really going from some place to some place, which is to say, nowhere in
particular. To be located between theese two points puts you in a position of
elsewhere, so there's no focus.
There is a suspention of destination."

Rosalind Krauss

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Hoje perdi a sensibilidade.
Numa questão de segundos, queimei-me e perdi a sensibilidade.
A dor ainda se prolongou, mesmo depois de bruscamente a tentar repelir.

Numa questão de segundos fiquei insensível e insensível continuarei até a queimadura passar.
Hoje perdi a sensibilidade.
Perdi a sensibilidade contra um tacho malfeitor
Um testo carente de mimo.
Fiquei dormente.
Perdi-a numa aposta com o alumínio.
A sensibilidade que o alumínio ganhou.
(Ainda) estou dormente (e triste. e só.)
Numa questão de segundos queimei-me.

Queimei-me
e
Agora tenho de esperar.
A sensibilidade voltará.
Um dia, deixarei de estar dormente e voltarei a sentir.
Mas agora
e por hoje
tenho de ficar calada e esperar
porque
numa questão de segundos, queimei-me e perdi a sensibilidade.

Como uma queda, um trambulhão.
A dor ainda se prolongou, mesmo depois de bruscamente a tentar repelir.
Hoje a sensibilidade perdi
e numa questão de segundos, insensível me tornei.

Mas isso tudo passará.
E um dia voltarei a sentir.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Episódio IX - Land Art & Body Art


O seu pé era bem definido. A pele já era escura, morena. Aquele tom castanho doirado causado pelo sol. Notava-se bem com o contraste da palma. Branca, rosada. Poisava no chão com determinação e força. Não vacilava, não tremia e impunha respeito. Os tendões ficavam bem à mostra. O tornozelo era magro mas não se duvidava da sua resistência. Cada movimento seu a definia. Cada gesto, o manusear das mãos, os movimentos dos pés, o balançar do corpo era uma declaração, uma afirmação, uma asserção. Era imperativa.
O seu cabelo era espesso, volumoso e negro como a pena de um corvo. Ondulado, ondulava misticamente ao sabor do ritmo. as mãos eram graciosas e bem constituídas. Eram como os pés mas de uma delicadeza superior. Emanavam gestos fluídos, gentis e suaves.
O corpo. A barriga, o ventre, o umbigo. Marcas da sua sensualidade.
Toda ela coberta de pulseiras artesanais e ligações à terra. Toda ela comunicava com a Natureza.
Cada vez que rodava sobre si fechava os olhos, abrindo-os depois, lentamente. Eram negros e sérios.
As suas vestes eram suficientes para o que ela esperava da vida. Não lhe interessavam os excessos.
Descalça, dançava em redor de uma fogueira.
A fogueira mal iluminava mas era suficiente para criar o ambiente.
Era uma névoa de ardor e desejo. De respeito e silêncio. De dedicação, comunicação e seriedade.
Um acto apaixonado de partilha e entrega à sua tribo.
O culto. A terra. As pessoas. As vestes. A fogueira. A névoa. A noite. A rapariga. As caras. O pó. Os incensos. Os batuques. Os silêncios. As posições. As expressões. O palpitar dos corações. A dança. O crepitar. O luar. O ritual. O respeito. A devoção. Os pés morenos e definidos. As pulseiras artesanais. A floresta. O mistério. O fim.

domingo, 6 de janeiro de 2008

Promessas


Quem não as cumpre, sofe consequências.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

6.5 bilhões de pessoas.

Uma lágrima.

De quem será?