sábado, 26 de janeiro de 2008

Episódio X - dez centímetros por quinze

Era uma fotografia. Daquelas que parecem estrelas de cinema num cartaz publicitário de um filme famoso. Uma comédia romântica. O casal olhava-se, cada um na sua margem da fotografia. Do papel mate de dez por quinze centímetros. Ela do lado esquerdo e ele do lado direito. Ele era mais alto por isso obrigava-a a erguer a cabeça.
Olhavam um para o outro com sorrisos bonitos. Com sorrisos colgate. Parecia que era muito felizes e feitos um para o outro. Construir uma casa, uma família, uma vida par. Uma vida comum. A dois.
No entanto a verdade encontrouva-se noutra forma.
Conheciam-se, era um facto. E sim, eram reais e andavam juntos num relacionamento enraizado de sorrisos perfeitos para a máquina que captava a imagem mas não a realidade.
Os olhares eram paralelos.
Ela olhava para cima mas não o via. Via o que estava por detrás dele e ele olhava em frente.
Embora fossem os obstáculos físicos dos seus olhares paralelos e antagónicos, ambos pretendiam simplesmente continuar a andar.
Depois de uma vista bem dada, a fotografia que captou o tão ideal, o tão perfeito casal de sorrisos bonitos e abertos mostrava as vontades dos próprios de se quererem livres, de quererem ser meras colagens daquela vida, daquele sonho idealizado e presunçoso, daquela fotografia tão falsa. Uma vontade de serem juntos, uma simples montagem.
A culpa não era dela.
A culpa não era dele.
Não lhes interessava a vida perfeita para já. Eram jovens demais para se comprometerem em tamanha ilusão.

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