quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Episódio IX - Land Art & Body Art


O seu pé era bem definido. A pele já era escura, morena. Aquele tom castanho doirado causado pelo sol. Notava-se bem com o contraste da palma. Branca, rosada. Poisava no chão com determinação e força. Não vacilava, não tremia e impunha respeito. Os tendões ficavam bem à mostra. O tornozelo era magro mas não se duvidava da sua resistência. Cada movimento seu a definia. Cada gesto, o manusear das mãos, os movimentos dos pés, o balançar do corpo era uma declaração, uma afirmação, uma asserção. Era imperativa.
O seu cabelo era espesso, volumoso e negro como a pena de um corvo. Ondulado, ondulava misticamente ao sabor do ritmo. as mãos eram graciosas e bem constituídas. Eram como os pés mas de uma delicadeza superior. Emanavam gestos fluídos, gentis e suaves.
O corpo. A barriga, o ventre, o umbigo. Marcas da sua sensualidade.
Toda ela coberta de pulseiras artesanais e ligações à terra. Toda ela comunicava com a Natureza.
Cada vez que rodava sobre si fechava os olhos, abrindo-os depois, lentamente. Eram negros e sérios.
As suas vestes eram suficientes para o que ela esperava da vida. Não lhe interessavam os excessos.
Descalça, dançava em redor de uma fogueira.
A fogueira mal iluminava mas era suficiente para criar o ambiente.
Era uma névoa de ardor e desejo. De respeito e silêncio. De dedicação, comunicação e seriedade.
Um acto apaixonado de partilha e entrega à sua tribo.
O culto. A terra. As pessoas. As vestes. A fogueira. A névoa. A noite. A rapariga. As caras. O pó. Os incensos. Os batuques. Os silêncios. As posições. As expressões. O palpitar dos corações. A dança. O crepitar. O luar. O ritual. O respeito. A devoção. Os pés morenos e definidos. As pulseiras artesanais. A floresta. O mistério. O fim.

1 comentário:

  1. bonito!
    a noite é sempre bela
    reservando belos momentos de intimidade
    um misto de sentimentos descritos por palavras do fundo da alma!

    beijo;)

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