segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Episódio VII - Finalizar


Get this widget | Track details | eSnips Social DNA


Ela pega na mão dele e desata a correr.
Não param.
Sempre em frente.
Ele está espantado mas no entanto não diz uma palavra.
Enquanto corre observa-a, admirado, respeitando-a silenciosamente.

Os olhos dela brilham. Felicidade. (Será?)
Não creio que tratasse da felicidade dela.

Os passos são largos e levantam os pés bem alto para chegar mais rapidamente ao seu destino.

Ela sorria.
Estava determinada.
Era uma avenida inteira. Não se sabe por quanto tempo andaram a correr.

Era um dia de sol intenso.
Ela tinha uma camisola vermelha ligeiramente comprida no tronco, jeans e sapatilhas amarelas. Por cima usava um casaco, também comprido, preto, quente, de um corte que abre, sem fazer balão e um cachecol à volta da gola do casaco, pendente.
Ele vestia um blusão preto. Era pouco mais alto que ela. Também de jeans e sapatilhas pretas, só não se sabe o que usava por baixo. Fazia frio.

As faces estavam coradas.
Estavam confiantes.

Ainda agarrada ao pulso dele, ele ligeiramente atrás, a acompanhar o passo dela, corriam.

Chegando ao seu destino, ela sorri. Abraça-o com força e despede-se.
(ele observa-a da janela do compartimento.
Ele arranca.)
Ela suspira, realizada, na plataforma.
Vira as costas e vai-se embora.

domingo, 16 de dezembro de 2007

Tupilak

Tupilak, o "fantasma nocivo" é uma bela escultura que os Inuit deitam fora juntamente com sentimentos de raiva que representa.

A natureza verdadeiramente efémera da arte e design Inuit (outra semelhança entre os Inuit e os Balineses) é melhor ilustrada através do tupilak que, segundo a tradição, é esculpido e deitado fora pelos Inuit da zona costeira da Gronelândia. Tupilak, que significa "fantasma nocivo" na maioria das línguas e dialectos dos Inuit canadianos, descreve as pequenas esculturas de marfim.
Encaixam-se facilmente na mão, como todas as verdadeiras esculturas Inuit, e faltando-lhe a base, não consegue ficar em pé "como deve ser".
A sua função era, originalmente, absorver todos os sentimentos e emoções más e violentas do escultor. Assim que ficavam pronttos e belamente rematados, o escultor atirava o tupilak para o mar ou para um richo, exteriozando e libertando a sua raiva e hostilidade, e deixando o escultor e a sua familia limpos de agressividade e ódio.
Recentemente, o Governo dinamarquês e as organizações turísticas da Gronelândia recolheram os tupilak como esculturas preciosas para os coleccionadores.
é irónico que a raiva e agressividade inuit sejam transformadas num produto que os turistas são incentivados a comprar.

Victor Papanek

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Gatos Pardos


À noite todos os gatos são pardos... ;)

domingo, 9 de dezembro de 2007

The Chariot

Get this widget | Track details | eSnips Social DNA


This is a song that came upon me
One night
When the news it had been telling me
About one more war and one more fight
And 'aeh' I sighed but then
I thought about my friends
Then I wrote this declaration
Just in case the world end

Our guns
We shot them in the things we said
Ah we didn't need no bullets
Cos we rely on some words instead
Kill someone in argument
Outwit them with our brains
And we'd kill ourselves laughing
At the funny things we'd say

And bombs
We had them saved for special times
When the crew would call a shakedown
We break down a party landmine
Women that so sexy
They explode us with their looks
Ah we blowing up some speakers
Jumping round till the ground shook

And missiles
They were the roadtrips that we launched
T-t-tripping across this island
Starting missions at the break of dawn
Yawn and smile say
'what direction shall we take?'

'Somewhere where it warm and wet'
This be the route we'd always take and

Our weapons were our instruments
Made from timber and steel
We never yielded to conformity
But stood like kings
In a chariot that's riding on a
Record wheel

And our airforce flying
When the frisbee in the sky
Have a session while we're smoking
Now we're feeling extra high
And we'd sneak into a carpark
With the skaties on our back
And we're flying down the levels howling
'on the attack now on the attack'

And battles
They happened in these dancehalls
See we'd rather fight with music
Choosing one the rhythm war
Battle at these shakedowns
And we battle at these gigs
We do battle in our bedrooms
Made some sweet love to the beat

Then our allies grew
Wherever we would roam
See whenever we're together
Any stranger feel at home
In a way we are an army
But this army not destruct
No instead we're doing simple things
Good loving find it run amuck

This be a declaration
Written about my friends
It's engraved into this song
So they know I'm not forgetting them
See maybe if the world contained
More people like these
Then the news would not be telling me
About all that warfare endlessly and

Our weapons were our instruments
Made from timber and steel
We never yielded to conformity
But stood like kings
In a chariot that's riding on
A record wheel

The Cat Empire
As confidências sabem melhor no escuro e em sítios estranhos.
Partilhar momentos intensos à luz das palavras...

Falar

Confidências
Escuro
Partilha
Conhecer melhor
Laços
Olhar
Sítios estranhos
Tempo
Foi-se.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

The mist

Uma noite de nevoeiro...

De novo... o início de um mundo cheio de Possibilities... ;)

domingo, 25 de novembro de 2007

Boa Sorte


Get this widget | Track details | eSnips Social DNA

É só isso
Não tem mais jeito
Acabou, boa sorte

Não tenho o que dizer

São só palavras

E o que eu sinto

Não mudará


Tudo o que quer me dar

É demais
É pesado

Não há paz


Tudo o que quer de mim
Irreais
Expectativas
Desleais


That's it
There is no way
It's over, Good luck

I have nothing left to say
It's only words

And what l feel

Won't change

Tudo o que quer me dar Everything you want to give me
É de mais It too much
É pesado It's heavy
Não há paz There is no peace

Tudo o que quer de mim
All you want from me

Irreal Isn't real
Expectativas Expectations
Desleais


Mesmo, se segure
Quero que se cure
Dessa pessoa
Que o aconselha

Há um desencontro
Veja por esse ponto
Há tantas pessoas especiais


Now even if you hold yourself
I want you to get cured
From this person
Who poisoned you

There is a disconnection
See through this point of view
There are so many special people in the world
so many special people in the world in the world
All you want
All you want

Tudo o que quer me dar Everything you want to give me
É demais It's too much
É pesado It's heavy
Não há paz There is no peace

Tudo o que quer de mim All you want from me
Irreais isn't real
Expectativas Expectations
Desleais


Tudo o que quer me dar Everything you want to give me
É demais It's too much
É pesado
It's heavy
Não há paz
There is no peace

Tudo o que quer de mim All you want from me
Irreais isn't real
Expectativas
Expectations
Desleais

Now we're Falling, falling, falling, falling
into the night into the night
Falling, falling, falling, falling
into the night um bom encontro é de dois

Now we're falling, falling, falling, falling
into the night into the night
Falling, falling, falling, falling into the night

Vanessa da Mata & Ben Harper

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

CMYK


"O orgulho"
Hoje voltei a cheirar o Natal. :)

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Cheiro de Natal

O ar gélido da noite, sob a iluminação alaranjada e os passeios molhados. Uma brisa de aromas a pães adocicados e delícias invernais cortam a chuva.

domingo, 18 de novembro de 2007

18 Novembro de 2007, 23:07

Li dois bigos, chorei e fui dormir. :)*

Manhattan Skyline

Kings of ConvenienceManhattan Skyline
We sit and watch umbrellas fly
I'm trying to keep my newspaper dry
I hear myself say
My boat's leaving now
So we shake hands and cry
Now I must wave goodbye
Wave goodbye, wave goodbye
Wave goodbye, wave goodbye

You know I don't want to cry again
I'll never see your face again
I don't want to cry again

We leave to their goodbyes
I've come to depend on the look in their eyes
My blood's sweet for pain
The wind and the rain brings back words of a song
And they sing wave goodbye
Wave goodbye, wave goodbye
Wave goodbye, wave goodbye

You know I don't want to cry again
I'll never see your face again
I don't want to cry again

So I read to myself
A chance of a lifetime to see new horizons
On the front page a black and white picture of
Manhattan Skyline

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Momento

Num bar, na mesa do canto escuro, a beber um copo.
Numa rua, iluminados pelo candeeiro alto e de cor alaranjada.
Num dia de chuva torrencial, descobertos.
Numa estação de comboios, com o vento a arrastar folhas.
Numa saída à tarde com os amigos.
Numa escolha.
A sós.

Casualidade.
Momento.

Frente a frente. Imóveis, duas pessoas se olham.
(a ouvir Love You More, de Alexi Murdoch)

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Hoje cheirei o vento

Hoje cheirei o vento.


Não era nada de mais, nem cheirava a nada. Cheirava a vento. Mas hoje soube-me diferentemente. Hoje soube-me à liberdade e a apatia de quando era nova e tinha tempo para não fazer nada. Tempo para parar, pasmar e ver o tempo passar sem me preocupar com isso ou com as minhas actividades. Agora já não penso no vento. Penso no que tenho para fazer. Hoje cheirei o vento e soube-me à melancolia lenta mas cheia de prazer de ser criança, mesmo num dia cinzento.

Soube-me bem. Soube-me ao nada.


Hoje cheirei o vento e não cheirei nada.

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Checkmate


wallmate
floormate
doormate
windowmate
garagemate
housemate
roofmate
meowmate
mymate

checkmate...


sábado, 3 de novembro de 2007

Amores


Vivemos perseguidos por tudo mas do tudo vou falar só do amor. O amor persegue-nos. Ficamos obcecados pelo amor, a desesperar para que os outros gostem de nós, desesperar para que sejamos escolhidos por aquela pessoa especial, desesperar para que olhem para nós e continuem a olhar. O amor rodeia-nos e consome-nos. Desde pequenos que queremos amar e ser amados. Amar a nossa família, amar os nossos amigos, ter um namorado/a, dar um beijinho, o primeiro beijinho, dar um abraço, receber um abraço, receber carícias, viver junto com alguém, casar, ter filhos... Não paramos de pensar no amor. Em nós. Somos todos egoístas do amor. (Não poderia ser de outra forma). E depois, existe todo o tipo de amor. O amor verdadeiro, o amor amigável, o amor correspondido, o amor não correspondido, o amor de conveniência, o amor da família, o amor mundial, o amor a um desconhecido, o amor de beneficiência, o amor que desaparece, o amor que surge do nada, a paixão, o adorar, o gosto de ti, o fraquinho, o amor ilegal, o amor impossível, o amor por alguém que não deveríamos amar, o amor que não queremos receber daquela pessoa, o amor que se vai com a mais leve e breve brisa e o amor que nem com o sopro mais forte voa... Amores justos e injustos, amores feios e bonitos, amores duros e leves, amores bem-vindos e mal-vindos. Amores.

domingo, 28 de outubro de 2007

L'Art Nouveau

L'importance organique, la beauté, le culte féminin...
Qu'est que c'est plus beau que l'art nouveau?
;) ihihihihih

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Fade to Grey

Get this widget | Track details | eSnips Social DNA


One man on a lonely platform
One case sitting by his side
Two eyes staring cold and silent
Show fear as he turns to hide

Ah, we fade to grey
Ah, we fade to grey

Feel the rain like an English summer
Hear the notes from a distant song
Stepping out from a back shop poster
Wishing life wouldn't be so long Un homme dans une gare isolée
Une valise a ses cotés
Des yeux fixes et froids
Montre de la peur lorsqu'il
Se tourne pour se cacher

Ah, we fade to grey
Sent la pluie comme un été Anglai
Entends les notes d'une chanson lointain
Ah, we fade to gre
Sortant de derriere d'un poste
Espérant que la vie ne fut aussi longu

Nouvelle Vague

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Episódio VI - Harmonious Silence


They were about fifteen people.
She was in a Carnival.
She was with her friends.
The friends that he didn't knew. The friends he never wanted to know.
She was smiling. Having some fun.
And then he appears.

She turns around, still smiling with her friends.
She sees him and she stops.

The smile faints away.
She walks at him, or he walks at her. They don't know. Time and Space are too confusing for them.

He says it's over.
She shakes her head.
No.
No.
No. No. No. NO. NO!
It wasn't her fault although she felt it was. It wasn't he's either. (Who was it, then?)
She does not say a word. Everything is in her head, waiting to burst.
Burst into shouts, burst into tears...

Her eyes are red.
It was almost. Almost.

He looks at her.
He doesn't want to brake up too.

She looks at him and...

He leaves.
With large steps, he leaves.

Now, with large steps, he left.
She thinks, or doesn't think because she's too busy with shock to deal with time, space and feelings.

She doesn't move.

Her friends were watching.
She looked at them and they looked at her.

She turned her back at them and walked into the beach.
Everything was glowing. far away, with the lights of the diversions.

She steps the sand. It was cold. It was night. Dark night.
A music plays, in the background. It was her brake up soundtrack.
Get this widget | Track details | eSnips Social DNA
She walks a little more, into the ocean but she freazes on the way.
She falls on her knees, with her back straight and her eyes wide open.
A slight breeze came from the back.

One of her friends come closer. It was a girl. She sat next to her. Both in deep silence.
They hold hands.

After a while, another person came along. It was a boy. Taller and older then her. He sat next to her.

Then, really slowly, they had lain down. Looking at the sky. Looking at the deep, dark blue.

In the end, they all came along.
All in perfect and harmonious silence.
And they stood there. Lying next to each other. Holding hands. In the cold sand. On a deep, dark blue night. Looking at the sky with they're eyes wide open.

In a perfect, sad and harmonious silence.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Get this widget | Track details | eSnips Social DNA

Nostalgia:

do Gr. nostós, regresso + álgos, dor

substantivo comum, feminino, singular
melancolia,
abatimento profundo de tristeza,
causado pelas saudades do lar ou da pátria.

sábado, 6 de outubro de 2007

clip


indeed, so simple...

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Perdi-me

Grito
porque
já não sei

(o que é)


esperar...

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Companheira de viagem

Ontem, a caminho do departamento, fiz uma nova amiga a quem dei o nome de Sally.
Sally, a gaivota bebé. :)

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Episódio V - Urbanismo


O chão - calçada portuguesa.
Reluzente das lixívias e das águas que o lavam; puído do pó que acumula, diferente do de casa; manchado, das pastilhas negras do tempo, nódoas feitas por nós, lixo; azul e branco amarelado, sem nunca perder ou mudar de cor. Original.
Ao andar pela avenida vou passando pela vida.
O cheiro perfumado da frutaria à direita com cada fruta e vegental mais suculento que o anterior, num convite a comprar tudo enquanto salivamos da boca, à esquerda, uma montra de ovos moles com o cheiro intenso e viciante do pão acabado de fazer - quase que se ouve o estalar do pão ainda quente e a fumegar.
Com cuidado - uma passadeira.
Atravessa-se e continua-se a andar.
Sapataria, loja dos chineses, sapataria...
Passado dez minutos, estúdio 2000 à esquerda e wang te à direita.
À medida que o tempo avança o vento já por si frio intensifica-se. Perde-se o calor bonito e bem-vindo do sol.
Desvio à direita e além à esquerda - a multidão que tenta apanhar um autocarro ou que não conduz.
O som de um carro parado, dos que movimentam na estrada. O shh de um autocarro a passar por cima de uma poça de água a encostar à direita para, de novo, carregar cm mais umas formigas trabalhadoras (desta vez de regresso a casa) e o tsss mais o seu ronco quando parte.
O vento que despenteia.
Levantar mais os pés para escapar uma dona de uma loja que pacientemente lava a entrada da sua lojinha (uma sapataria?) com uma vassoura de pelos amarelos, rijos e espumados.
Pegadas molhadas.
Outra vez - passadeira.
Chão azul e de pedra.
É pedonal.
E outra vez - atravessar a estrada. Contudo, sem passadeira. Para quê quando a distância é tão curta?
Um pão-de-ló assume orgulhosamente o seu papel, inchado e dourado.
A fome do final de tarde ataca. Não nos podemos deixar levar.
O crsh de eventuais folhas secas, caídas e esquecidas.
De vez em quando, o cheiro impestável da ria.
É o que torna único e diferente, este centro urbano "vilesco".
Por fim, calçada, alcatrão e calçada de novo.
Sobe-se a rampa e os sons são outros.
Um esguichar de vapor e os avisos robóticos dos comboios e das pessoas monótonas e habituadas àquelas andanças. No entanto, para alguns, a melodia é outra. - o estar mais perto da sua família.

sábado, 22 de setembro de 2007

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

devaneio

E porque eu não sou perfeita....
...não sei o que fazer

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Episódio IV: Limbo-Testemunha


Ouvia música no meu ipod. Estava na parte de trás do autocarro, sentada na cadeira mais à esquerda para quem entra no autocarro.
Tinha um top amarelo, banal e liso e calças de ganga com umas sapatilhas amarelas da minha irmã.
Saí do autocarro na paragem do Botânico, ao lado do João de Deus, mas não entrei no jardim.

Segui paralelamente ao muro gradeado.

Sabia bem apanhar a brisa do vento de encontro à minha cara com a (pequena) velocidade a que ia.
Tenho um passo rápido mas sem me deixar gozar o momento.

Entro na porta lateral do Botânico, com a estátua de Avelar Brotero a impor-se a mim. Fez-me sentir nostálgica pois fez-me lembrar o quão insegura estou, sem saber onde me encaixo nesta altura da vida e saber que uma coisa era certa: a escola a que deu nome já não era minha.

Sentei-me num banco de pedra. Era vulgar, cinzento e às manchas da velhice lenta e poluída.
Fiquei de pernas cruzadas, "à chinesa", à espera de ver um cãozinho branco a saltitar seguido da companhia com quem me iria encontrar e de repente, completamente paralizada de prazer.

Por cima estava o Verão em pleno e por baixo o Outono já se estendia.
Olhei para cima, para as folhas verdes, ainda presas nos ramos fortes. Pendiam sobre a minha cabeça.
Olhei para baixo. Já haviam folhas vermelhas e amarelas e laranjas. Mas não eram vermelhas-castanhas, amarelas-castanhas e laranjas-castanhas como as que se vêem à beira da estrada quando passamos de carro por elas, embrenhados no stress do nosso dia-a-dia, todas molhadas, amorfanhadas e rasgadas. Eram mesmo vermelhas e mesmo amarelas e mesmo laranjas. Tinham luz e embora já no chão, tinham vida. Eram perfeitas.

Pensei no Verão que este ano não aconteceu em pleno e no Outono que ainda estava para vir; mas rapidamente fui cortada do meu pensamento pois ao meu redor as folhas começaram a cair. Uma por uma, às vezes duas, iam caindo. Todas à minha volta, a "espiralar", a rodopiar, a planar, foram caindo...

Aí não me mexia, quase. Mudava irrequietamente a cabeça, apenas, para as poder ver todas. Sentia-me a testemunha de que o Outono estava a chegar, mesmo estando um dia bonito de sol, num jardim de ambiente mágico, sem ser ainda dia 21 de Setembro.

A certa altura fui interrompida por uma mensagem que me fez sair do banco cinzento e vulgar onde estava, na companhia de Avelar Brotero. Levantei-me, olhei mais uma vez para as folhas verdes e disse-lhes adeus pois sabia que era uma questão de tempo de ser tornarem vermelhas, amarelas e laranjas como as que já haviam no chão.

Dei três passos, baixei-me e peguei numa folha amarela. Era simétrica, não era nem grossa de mais, nem fina de mais nem irregular. Não tinha relevo anormal sem ser as suas veias, também simétricas. A sua cor era de um amarelo intenso mas nada brilhante, nem claro nem escuro de mais.
Depois fui andando ao longo da alameda, ladeada pelo muro gradeado e por um jardim imponente, passeando num chão de terra batida, ao lado das folhas vermelhas, amarelas e laranjas (algumas voaram quando passei por elas), a brincar com a folha amarela numa mão, ouvindo música no meu ipod, sentido-me feliz por ter sido a testemunha.
Não podia ter sido um momento mais perfeito nem numa paisagem mais bela.
12.09.2007

A folha amarela hoje... (14.09.2007)

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

hoje, agora

a primeira chuvada de Setembro...

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Home



When do you really get to go

First you must go walking on your own

Maybe then we already are home

Row row row your boat
Gently down the stream
Row row row your boat
Gently down the stream
Gently down the stream now
Gently down the stream
Gently down the stream now
Gently down the stream
Gently down the stream now
Gently down the stream


Alexi Murdoch

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Episódio III: Fins de semana

Imagino...
longos fins de semana...

Uns a pintar no meu atlier e tu, na tua pausa para o lanche, farto de trabalhar para o teu novo projecto, com os olhos cansados de estar no computador e de copo na mão vens ter comigo. Por incrível que pareça, estou de jardineiras azuis claras, todas pintadas.
O sol brilha lá fora e a luz entra directamente por uma janela perto do tecto que faz incidir a luz no quadro.
No atlier estou eu, o cão a dois m de mim, junto ao quadro, o cavalete com a tela e as tintas ao lado e mais nada. As paredes brancas estavam malhadas das cores do arco-íris. Paira uma paz requintada e melancolicamente animada na divisão.
Dei uns retoques ao quadro com a mão, depois segurei a palete e com a boca segurava um pincel.
Abriste a porta no momento em que eu acabava de retocar o quadro com a mão. Olhei para trás, sorri e falei animadamente contigo com palavras mal pronunciadas de ter o pincel na boca.
Tinhas uma t-shirt branca e jeans "à dread". Aproximas-te de mim pelas costas, deste-me um beijo na bochecha direita enquanto observavas o quadro e falávamos aberta e descontraidamente.
Estavas cansado, notava-se. Começaste a fazer comentários, uns elogios e algumas críticas. Depois abusaste, assim... na brincadeira!
Olhei para ti com os olhos a brincar, tal como tu, e com um ar gozão e malandro pincelei-te o nariz de azul.
Ficaste admirado mas não por muito tempo. Atiraste-te para cima de mim, o copo foi pelo ar e caímos juntos para o chão. Eu caí da cadeira, tu que estavas em pé junto de mim, ficaste por cima de mim. O gato que tinha entrado e instalado a apanhar um bocado de sol desapareceu mal ouviu o estrondo do copo na parede oposta e mal viu os primeiros tiros de tinta pelo ar. A água escorria pela parede abaixo do local do embate.
Rebolámos e fizémos cócegas um ao outro. Os baldes de tinta estavam todos abertos e deitados no chão a verter litros de tinta colorida. O cão só ladrava. Rosa, amarelo, laranja, verde, azul, roxo, branco, conza, castanho... fusões... as paredes estavam escandalosamente garridas.
A arfar, deitámo-nos de costas para baixo, um ao lado do outro. Tinhas o cabelo espetado e amarelo e a cara verde e azul e umas pintas de rosa. O resto ficou tudo de todas as cores. Eu tinha o cabelo verde viscoso e a pingar, a cara estava vermelha e rosa e amarela nas bochechas e com uma mão ainda numa lata de tinta.
Rimo-nos até não termos mais ar e nos doer a barriga.
Sentíamo-nos porcos, peganhentos e felizes.
Depois desta balbúrdia quem é que não fica?
Depois de tomarmos um banho e de nos pormos a ver um filme deitados no sofá relaxadamente à noite, o cão deitou-se no chão, de baixo de ti, com a cabeça entre as patas e o gato foi para cima de mim até que vimos uma mancha amrela na sua orelha!
Olhémos um para o outro, rimo-nos e foste dar banho ao gato enquanto eu preparava chocolate quente para os dois.

Outros fins-de-semana eram passados a trabalhar. Tu, sentado na cadeira com o portátil na mesa, perto da cozinha e eu a fazer a mesma coisa no sofá.
às vezes davas-me umas dicas, outras vezes acabávamos em discussão e outras vezes limitávamo-nosa estar calados.
Se não eras tu, era eu que te dava dicas e ideias, a rir, a gesticular ou a desenhar esboços que aceitavas, ponderavas muitas vezes ou recusavas.
Era só o tec tec tec do teclar e uns ocasionais: AH! JÁ SEI! E depois a caneta ou o lápis a arranhar o papel furiosamente com a pressa para que a ideia não fugisse da nossa cabeça. Acabávamos os dias contigo a fazeresme festinhas na cabeça enquanto vemos filmes sem jeto nenhum pois não teríamos paciência para ver outro tipo de filmes.

terça-feira, 21 de agosto de 2007

Porcelain


In my dreams I'm dying all the time

As I wake its kaleidoscopic mind
I never meant to hurt you
I never meant to lie
So this is goodbye
This is goodbye

Tell the truth you never wanted me
Tell me

In my dreams I'm jealous all the time
As I wake I'm going out of my mind
Going out of my mind
Moby

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

mudam-se os tempos

E se todo o mundo é composto de mudança
Troquemos-lhe as voltas, que 'inda o dia é uma criança

(Luís de Camões, José Mário Branco & Jean Sommer, in "Mudam-se os tempos...")

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Perigo de Explosão

É melhor fechares os olhos,
meu amor,
antes
que o mundo inteiro seja um incêndio.

Os ventos todos fechados.
Os ventos todos fechados dentro da minha mão.
Quantos ciclones queres ?

Procurava
nos outros
a ternura,
mas só encontrava
poços cheios
de ódio
e nitroglicerina.

Aquele poema,
ao contrário dos outros,
tinha pólvora.
Só lhe faltava
o rastilho.

Éramos rebeldes por sistema,
a sonhar uma revoluçao por dia.
À tardinha,
na esplanada,
bebiamos um cocktail molotov.

O terrorista
apaixonado carregava,
às
escondidas,
uma bomba-relógio.
Era
no peito.
Era o
coração...

domingo, 12 de agosto de 2007

Grão de arroz colorido

Hoje passeei pelos corredores campestres da Pampilhosa.
À medida que ia passando sentia-me viver enquanto o que via parecia parado no tempo. Sentia-me como um grão de arroz num mundo a preto e branco.

Olhei para a direita e vi o café onde ia com a minha família depois de almoço. Enquanto tinham conversas de adultos e bebiam o seu café, punha-me debruçada num banco (na altura da minha altura) forrado a cabedal preto, com os pés a impulsionarem para poder girar cada vez mais rápido. E todos os dias, enquanto os adultos eram adultos eu girava no banco, estando de saia, vestido, calças ou calções, insistindo em ser criança!

À esquerda, quase em frente ao café, havia um caminho privado pedonal. Adorava esse caminho! Sentia-me especial porque achava que era das poucas pessoas que sabia que era um atalho para a casa da minha avó. É verdade que quase ninguém por lá passa. Mas eu era tão pequenina e aquele caminho tão irregular que era uma delícia enfiar-me por ali, onde só cabe uma pessoa, ladeado por muros enoormes, onde havia sempre gatos selvagens, ervas esmagadas, comida p animas espalhada no chão, terra e pedrinhas.

Perto de onde estava havia o coreto. Olhei para lá e vi uma data de velhotes com ar amistoso a jogar o "jogo da malha" (ainda em preto e branco), porque a cores vi só um caminho em terra batida e pedras com poeira no ar.

Ao seguir esse caminho fui dar à rampa que dá à casa da minha avó. É uma rampa em excelente mau estado que contornava uma horta típica da terra, transformada agora numa vivenda vulgar. Por ser tão horrível, eu a minha irmã e o meu primo punhamo-nos a descer a grande velocidade nas nossas bicicletas (que iam constantemente à loja de reparações por causa dos pneus furados...)...

A casa da minha avó é perfeita como num conto de fadas.
A preto e branco: O portão de madeira branco, um pouco pesado que só fica aberto (para os carros passarem e estacionarem) se tiver pedregulhos grandes a prender no chão; a nespereira cheia de folhas secas no chão (um dos grandes passatempos era pegar no ancinho, fazer um monte com as folhas e deleitar-me com o chão em terra castanho-avermelhada com os troços feitos pelo ancinho), o caminho cheio de mini-malmequeres e relva que dá para a parte de trás da casa e para o quintal (onde me deitava no skate do meu primo a apnhar banhos de sol com um chapéu de palha em cima da cara); as papoilas gigantes (que não são papoilas mas é da família) plantadas na berma do caminho de pedras que dá à porta da casa; a comida ou tijela de leite para os gatos vadios junto às hortências na entrada da casa; a casa branca com trepadeiras verdejantes, o quintal cheio de vida e cor, cheio de compartimentos para as couves ou laranjas..., o tanque de pedra com bagas vermelhas venenosas que arrancava para atirar aos carros que passavam pela estrada adjacente à propriedade, a pequenina árvore do azevinho rodeada de pedras para a proteger, a figueira que em setembro nos enchia os pratos de figos pingo-de-mel maduros que me faziam impressão na língua de tanto os comer, o chorão com as folhas até ao chão (era como uma casa!) ao lado do portão que punha fim ao mágico quintal...

A cores: O portão de madeira verde entreaberto, a nespereira cheia de folhas no chão coberto de pedrinhas brancas, tal como o caminho que vai dar ao resto do quintal, o caminho quase invisível de pedras, a comida ou tijela de leita para os gatos vadios junto às hortências que diminuíram de número, a casa cor de rosa pálida com trepadeiras verdejantes, o quintal com ar meio abandonado mas ainda cheio de vida, o tanque de pedra, agora cheio de ervas e ramos por cima sem bagas para atirar aos carros que passam, a figueira, agora velha, mas que ainda nos mantém de pança cheia e doce, o chorão morto pelo mal que começava a causar à estrada, ao lado do portão enferrujado, que mal abre, cheio de lama e outras coisas assim feias que já praticamente não nos deixam passar para fora do quintal...

Por dentro nem menciono, pois não entrei lá.
Contudo, passei pelo adro da igreja. (onde se vai de encontro, depois de se passar o portão) Estava cheio de gente da missa mas a preto e branco estava vazio, comigo a andar de bicleta por lá...

Por fim, à frente, estava a casa dos meus pais. É muito bonita. Branca, alta, velha... Mas só vi a porta verde com as janelas fechadas, com rendinha branca atrás, os três pedregulhos altos a servirem de escada e o fóssil que existe na soleira da porta, muito macio e de certa forma, bonito. Contudo, também não entrei lá, por isso não entrarei em pormenores.

Passei a esquina da casa, passando pelo mini-mercado do Sr. Alfredo que tem tudo o que se possa imaginar, olhando para o resto da aldeia no lado esquerdo, pensando nas imagens do meu avô e no lado direito o resto da nossa casa mais a casa da madrinha e a frutaria da Júlia. Por fora não há diferença na saturação das imagens, a não ser o jardim da madrinha, que é em cima no "1º andar" da parte de fora da casa que dantes se viam plantas a lutar para mais espaço e agora apenas os vasos brancos, grandes e pesados a precisar de uma esfregadela...

Aí entrei, mas só um bocadinho.
Á medida que rodava a chava sentia por dentro um medo, ou excitação, um não-sei-quê que despertava em mim.

A casa estava escura, cinzenta, inabitável. (e não me estou a referir à minha visão a preto e branco). Estava coberta de pó e teias de aranha velhas, tábuas velhas, escada com 15 degraus altos e velhos, tudo velho.

Engoli em seco e fiquei parada a olhar.

Olhei para as escadas com que sonhava num sonho que era atirar-me de cima num vestido azul e branco que se abria formando um pára-quedas como a alice no país das maravilhas aterrando em cima do tapete (daqueles que picam) sentada à chinesa. Olhei para a porta fechada da adega, um pequeno compartimento cheio de caixas e garrafas mais cinzentas que verdes do pó. Olhei para uma divisão à esquerda, ainda mais escura que o resto da casa, cheia de tralha que faz ligação com a nossa casa e olhei para a direita. Outrora iluminada e cheia de artefactos pois era usada como um museu, agora com mais tralha e mais pó e mais escuridão.

Não avancei muito mais. Também não precisava. Dali, conseguia ver muito bem, o meu preto e branco, o meu sépia, a minha infância.