terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

Rosa branca ao peito

Teu corpinho adolescente cheira a princípio do mundo.

Ainda está por soprar a brisa que há-de agitar a tua seara.

Ainda está por romper a seara que há-de rasgar o teu solo fecundo.

Ainda está por arrotear o solo que há-de sorver a água clara.

Ainda está por ascender a nuvem que há-de chover a tua chuva.

Ainda está por arder o sol que há-de evaporar a água da tua nuvem.


Mas tudo te espera desde o princípio do mundo:

a doce brisa, a verde seara, o solo fecundo.

Tudo te espera desde o princípio de tudo:

a água clara, a fofa nuvem, o sol agudo.


Tu sabes, tu sabes tudo.

Tu és como a doce brisa, a verde seara e o solo fecundo

que sabem tudo desde o princípio do mundo.

Tu és como a água clara, a fofa nuvem e o sol agudo

que desde o princípio do mundo sabem tudo.

O teu cabelo sabe que há-de crescer

e que há-de ser louro.

As tuas lágrimas sabem que hão-de correr

nas horas de choro

Os teus peitos sabem que hão-de estremecer

no dia do riso.

O teu rosto sabe que há-de enrubescer

quando for preciso.


Quando te sentires perdida

fecha os olhos e sorri.

Não tenhas medo da Vida

que a Vida vive por si.

Tu és como a doce brisa, a verde seara e o solo fecundo

que sabem tudo desde o princípio do mundo.

tu és como a água clara, a fofa nuvem e o sol agudo.

A tua inocência sabe tudo.

(António Gedeão)

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007

Episódio I: 3 passos

Situar no tempo: Intemporal. Este episódio nunca saiu dos meus pensamentos.

Situar no espaço: sala de aula. É a minha vez de dizer algo sobre qualquer coisa. Amizades. Toda a gente olha para mim com ar sério e sinto a pressão e o silencio ensurdecedor da turma. Os olhos pesados da professora que me julga e avalia fazem-me arrepios. O dia é primaveril mas varia entre um sol pálido e bem vindo e nunvens de dégradés cinzentos.

Eu não sei o que fazer nem sei o que dizer. Não preparei o texto e como tal, fiquei especada a olhar para toda a gente tal como eles a mim. Aproximo-me do quadro e ponho-me perpendicular a ele, fitando o chão. Não sei de que nível, mas havia expectativa no que eu iria fazer. Dei 3 passos. Era suficiente. O ideal seria os três passos corresponderem ao comprimento do quadro. Como sou pequenina, paciência.
Quando finalizei os três passos, juntei os pés, virei-me para a turma, de frente para a professora sentada no fundo da sala e ergui a cabeça. O sol foi abrindo, iluminando-me de perfil. Olhei para o ambiente, quase sem me mexer e disse: "3passos. Eu dei três passos.". Esperava uma risota ou qualquer comentário despropositado de alguém, mas nada cortou o ar. Era tenso demais para alguém ousar falar.
"só precisamos disto para uma amizade seja diferente. Isto. 3 passos."
O meu cérebro estava paralizado e as palavras saíam da minha boca como bolinhas de sabão prestes a rebentar no ar. Não pensava em nada senão nos olhares que me lançavam. O suspense, a meu ver, tinha-se transformado em terror. Ninguém percebia nada. Mas se percebiam ou não também não disseram nada para contestar. E continuei.
"Isto é espaço. 3 passos é o espaço suficiente para tudo mudar."
Voltei ao meu ponto de partida, peguei no giz e desenhei uma linha vertical de 10 cm aproximadamente. Depois, mais ou menos a meio do traço uni o giz ao quadro e repeti os três passos que dei, paralelamente ao quadro, arrastando o giz comigo, resultando numa linha horizontal torta e desformada e conclui o desenho com outro traço vertical semelhante ao primeiro. Uma brisa passou, fazendo barulho de vento na janela. Foi breve.

Continuei. "Este é o espaço que é suficiente para uma amizade não ser mais que um olhar, ou um desvio de olhares, um aceno ou simplesmente ficarmos rígidos e com o constragimento entre nós. Neste espaço, não estamos suficientemente próximos para nos ouvirmos, para dizermos qualquer coisa um ao outro, para trocar confidências ou carinhos... não é suficiente nem para nos zangarmos nem para guardar o silêncio confortável que uma amizade sólida e única trás de vez em quando.
É o espaço que suga as palavras que queremos dizer, que repela o olá, o contacto e lentamente, o que queremos dizer é todo sugado e não restará mais nada do que isto. Os três passos. O espaço.
E depois, o tempo passará e ninguém sabe quanto espaço está entre nós e quantos passos temos de dar. Não sabemos sequer se o outro está lá para nos ver a caminhar.
Podemos querer andar mas a incerteza destrói o movimento."
Apeteceu-me continuar. Tinha muito para dizer mas acho que era mais para casos pessoais da minha vida e que não tinha a ver com a turma.
O sol mergulhou lentamente entre as nuvens cinzentas fazendo-se notar a diferença gradual da luz. Uma aragem abanou as flores brancas que embelezavam a janela da sala. Estava mais escuro.
Quando acabei de falar estava hirta, tal como quando comecei a falar. Estava exactamente no mesmo sítio quando tinha finalizado os 3 passos. Repentinamente, mudei de ambiente. Passei de extremamente tensa para natural, pousando o giz e sentando-me no meu lugar, na 1ª ou segunda fila, em frente à porta, apoiando a cabeça na mão esquerda e olhando para a professora que se tinha posto no meio da sala, junto ao quadro a falar para nós.
A partir daí, o tempo decorreu normalmente e sem demoras e o sol voltou a radiar a sala, fazendo sombra nas mesas de uns colegas das flores à janela...

terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

Losing all the control

i'm losing you

i'm losing all control
just let me be
let me be alone
i wanna be alone tonight
once again we've gone off track and lost all hope for coming back
it's time to restart and then and try all over again
its time to work the work is useless now
oh can't you see your help is lost in me i wanna be alone tonight

Rooney

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007

Mudança

Ás vezes temos aquela sensação de que tudo vai mudar. Ou vamos mudar de escola, ou passamos para a Universidade, damos um passo à frente numa relação, entramos em dieta, começamos a falar, a dar os primeiros passos, começamos a namorar... A partir daí, a nossa vida passa a ter um rumo totalmente diferente... Ou nos tornamos mais complicados e mais stressados, ou se distancia dos amigos, ou se conhece novas pessoas, ou se se começa a ser mais alegre, ou se se incia um novo hábito... Mudamos. Mas só quando se passa a transição é que nos apercebemos da mudança. Pode ser quando se abre uma janela no MSN Messenger daquele amigo e fica-se a olhar para o monitor sem saber o que dizer, sem dizer nada, pode ser quando nos apercebemos que já não somos quem eramos, e que aqueles com quem falávamos já não são os mesmos...

Mudamos.

A vida dá passos grandes. Mesmo que não nos apercebamos. Ás vezes, passa-nos mesmo ao lado. Nem damos conta que deixámos de ver desenhos animados e de jogar à apanhada ou às escondidas. Simplesmente deixamos de o fazer. É natural. É distância. É aterrador.

Há no entanto aqueles momentos de alegria e sentimento de cheio, completo, felicidade. Por exemplo, quando fazemos anos e vamos fazer um jantar de anos. Queremos naturalmente convidar a nossa família, os nossos amigos e começamos pela turma, depois a turma anterior, depois o nosso grupo, os filhos dos amigos dos nossos pais, aquela pessoa que conheci ali, aquela e mais o outro que conheci no campo, a Felisberta, a Beatriz, o Roberto e ahahah! como é que poderia esquecer do Francisquino? E passado uma hora vemos umas cinquenta pessoas na nossa lista e apercebemo-nos que temos mesmo muitos amigos, uns com mais contacto do que outros e sentimo-nos bem por dentro, com muita sorte em ter tanta pessoa que se preocupa conosco. Mas depois, sentimos a mudança. Uns não veem porque teem isto ou aquilo, outros mudaram o contacto porque há muito que não falamos, outros não veem porque não nos interessamos muito um pelo outro e pouco a pouco a nossa lista diminui para umas quinze ou vinte pessoas que são os presentes que se preocupam mesmo conosco. E sentimo-nos tristes e com vontade de voltar atrás no tempo.

E depois de pensarmos que não queremos mudar, passado uns dias queremos mudar... e depois pensamos que queremos mudar e não queremos mudar... Nunca somos constantes e nunca sabemos o que queremos. Somos consumistas e queremos sempre mais. Mesmo que seja de nós mesmos. Somos exijentes demais.

Quando crescemos, há sempre uma altura ou outra em que fazemos desejos disparatados ou ridiculos. Quer seja um desejo de ter um/a namorado/a ou simplesmente de ser mais simpático e bom para os outros. Mas de que adianta mudarmos totalmente a nossa simpatia e aguentar com tudo se os outros não o fizerem? Ninguém consegue ser sempre simpático. É ridículo desejar uma coisa dessas.

As pessoas mudam e nós temos de mudar com elas.

A vida passa, uns momentos mais rapidamente e outros mais lentamente mas mesmo aquela semana que passou a correr pensa-se no fim, bolas, ainda só passou uma semana! É estranho, porque na altura acha-se que os dias passaram a correr! E no entanto, foi só uma semana. Uma longa semana de dias excessivamente rápidos.

Mariana Araújo, 2006


Este texto muito confuso foi uma reflexão minha em relação à realidade inconstante e indefinida. É algo que me assusta imenso porque elimina tudo aquilo que posso ter no futuro. Porque de um momento para o outro, tudo pode mudar.
Tanto seja nas pessoas que conhecemos, como nós é que mudámos, como o sítio em que crescemos ou o mundo em que vivemos. E o saber que tudo isso não pára de mudar é aterrador.
Passamos momento tão bons que não os queremos perder. nunca. E então agarramo-nos ao passado, a esse momento tão bom e delicioso e desejamos com todas as forças que nada mude, que fique exactamente como está: Perfeito.

Ultimamente tenho andado nostalgica e cheia de vontade de ir ao passado. E penso no quão me sabe bem reviver as minhas alegrias intensas e marcantes. (os bons e velhos tempos) e faz-me pensar que adoro tanto as ilusões – essas alegrias e memórias – esses sonhos porque são moldáveis ao nosso gosto. É tão muito mais fácil lidar com eles que com a realidade. O que faz com que queiramos constantemente a ilusão(ou drogas ou bebedeiras). Faz-nos não pensar e não estarmos dentro de nós, como um refugio, pelo menos por um bocado. E é por isso que queremos sempre mais. E acabei de ler uma frase de uma amiga do 9º ano: “ Fôssemos nós como deveríamos ser e não haveria em nós a necessidade de ilusão.” Faz todo o sentido. É aterrador. Por isso é que há tantas depressões –(e) chamadas desilusões – quando nos tornamos conscientes outra vez.

23 Janeiro de 2007

Suponho que para tudo temos de bater mesmo no fundo até onde não der mais para depois ser só olhar para cima e subir. Eventualmente, vai chevar a altura em que a pessoa fique farta de ter uma rotina, farta de ver as mudanças todas acontecerem e continuar agarrada ao passado. Farta de ser só uma presença no meio de tudo. E depois é só uma questão de tempo até re-mudar, e encarar as coisas noutra prespectiva. Seja em seguir a vida sem re-olhar para trás, seja em ver a mudança como uma coisa boa, seja em ver os outros como alguém que já foi e agora não é ou mesmo olhar para trás e dizer: Paciência!

Novos tempos virão. alias, estão sempre a passar por nós. Nós é que nem damos conta que basta olharmos para ao lado e vermos que o que nos falta é dar um passo. Fazer qualquer coisa para encarar o futuro e a realidade.

Lamento a confusão. A minha cabeça é assim, desorganizada: um autêntico

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A culpa é do tempo. Não há tempo para nada. Para reconhecer as pessoas que mudam, para nos reconhecermos, para passarmos tempo uns com os outros, para termos tempo para nós mesmos... Não há tempo quase para dizer olá, fazer disparates, rir com gosto ou dar um abraço.

Ninguém tem motivação como já dizia Luis de Camões. Ninguém tem a coragem de admitir a mudança, de dar o primeiro passo para o futuro.

Toda a gente tem vergonha de fazer o que é necessário e importante. O dizer o que é preciso ser dito porque a verdade é veradade e dói no coração. E depois é kill the messenger...

É sempre uma questão de tempo. Tudo é uma questão e tmpo. é uma questão de tempo até uma pessoa se acalmar, uma questão de tempo até o amuo passar, uma questão de tempo o bebé sair, uma questão de tempo até aquela pessoa se apaixonar por nós...

Tudo é uma questão de tempo e uma vez mais é aterrador porque uma vez mais é incontrolável.

Toda a gente quer e ninguém consegue parar o tempo ou fazê-lo passar mais rapidamente. Para não doer, para voltar atrás, para aproveitar...

A verdade é urgente e necessária. E dói. Mas a dor existe por um motivo. Para aprendermos com os nossos erros, para mudarmos, para crescer, para saber que algo não está bem...

E é uma questão de tempo até toda a gente se aperceber disso. Disso e da dor, e da verdade e da necessidade e das prioridades... Até lá é esperar. (É irónico não é? E dói, não dói?) Agora é só esperar. E suspiramos enquanto esperamos. E esperamos e esperamos e voltamos a querer que o tempo voe até chegarmos lá. Mas isso nunca vai acontecer. É impossivel chegarmos a um acordo e à mesma conclusão ao mesmo tempo. E voltamos a ter uma questão de tempo. Voltamos a não ter tempo de nada nem que seja porque estamos à espera que aquilo que esperamos aconteça! E voltamos a apercebermo-nos que o tempo é incontrolável e inatingível. E voltamos ao mesmo, á espera do consenso comum, do fazer qualquer coisa, da questão de tempo, do tempo incontrolável, do consenso comum, do fazer qualquer coisa, da questão de tempo...

E entretando, lá vai o tempo passar por nós como sempre o faz. E não podemos fazer nada contra isso. Nem contra o tempo, nem contra a verdade, nem contra a dor, nem contra a realidade, nem contra o inatingível e o incontrolável, nem contra a mudança.

Tudo é urgente e necessário e tudo é impossível de se concretizar.

Por isso contentamo-nos com o que temos, esta realidade, este quebra-cabeças, este ciclo interminável.

Vamos voltar à nossa não inocência-mas-mais-inocente-que-esta-reflexão. Vamos viver a vida como a conhecemos e vivemos e sabemos. Vamos voltar viver a vida sem pensar que não a podemos mudar.

Rewind. Stop! Play...