domingo, 27 de abril de 2008

Enterro 2008

Este ano, as palavras que o define é Loucura Total!

sábado, 19 de abril de 2008

Apetece-me escrever
Não sei de quê mas apetece-me escrever.
Longas frases de palavras curtas e assustadoras. Pensamentos profundos e banais.
Soltos. Gargalhadas. Versos.
Palavras que surgem na cabeça como interruptores que acendem e desligam as minhas expressões.
Pauso. Pasmo. Penso e divago.
Falta-me o estatuto para ser alguém.
Tempos mudaram. Questões mudaram. Convenções mudaram.
Não só tenho de descobrir estas mudanças
como me falta destapar de todos os lençóis de que sou feita.
Espero não me emaranhar (nestas palavras).
Não quero estagnar num gosto retrógrado.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Guarda-Chuva


Quero um Guarda-Chuva.

Descasca à indecisão - Episódio XIII

Chovia a potes.
Num passo decidido marchava de noite. Cabelos a pingarem pelo pescoço abaixo.
Fugia.
A confusão era muita.
Chocava com pessoas de todo o lado. Altas, baixas, gordas, magras. Felizes, infelizes. Todos passavam e chocavam e corriam e salpicavam. Tudo mexia. Vultos negros à sua volta.
Não olhava em frente. Tentava, lutava para não cair numa poça e banhar-se em lama. Se tropeçasse, ficaria por terra.
A roupa colava-se e dificultava os movimentos do seu corpo. Agora a luta era contra si mesma. Detestava a chuva. Não queria estar ali.
Apercebeu-se que a seguiam. Parou quando lhe barraram o caminho. Era uma pessoa baixa e loira. Não tinha o olhar de quem julga, de quem analisa, de quem vai fazer algo para impedir. Simplesmente fez com que ela parasse de andar.
Um grupo seguia-se. Ainda eram vários.
Não conseguiu sentir raiva, frustração, tristeza ou pena. Não sabia como reagir. Só soube ficar imóvel, tentando abrir os olhos naquela chuva torrencial.
Eles pararam a conversa ao mesmo tempo que pararam. Todos olhavam para ela. Ela olhava para ele. Ele olhava para ela. A pessoa baixinha olhava para os outros.

Tanto tempo já se passou, tanta troca de olhares e ninguém avança?
Há sempre qualquer coisa no meio! Porquê tanta indecisão?
É tão fácil por um ponto final numa história. É tão fácil acabar com um final feliz.
É tão fácil!
Porquê tanta indecisão?! Porquê ainda parar e observar? Porquê ainda a hesitação?

Vai fugir? Vai dizer alguma coisa?
Reage! Reage depressa!
E ele? Vai fugir? Vai dizer alguma coisa?
Agarra! Agarra depressa!

É tão fácil a teoria.

Porque é que nos faltam as palavras? Porque é que gostamos tanto dos livros e dos filmes dos finais felizes? Porque é possível? Numa hipótese remota? É isso? Porque podem existir?? São livros! São filmes! Tudo pode existir!
Porque é que temos tanto medo? Temos medo de tudo, somos uns medricas! Rejeição?
Apetece-me dizer que a vida já é dura suficientemente para nos preocuparmos com uma simples rejeição. Apetece-me dizer que vamos apanhar com rejeições ao longo da vida e por isso não podemos dar tanta importância. Apetece-me dizer que a rejeição torna-nos mais fortes.
Mas a rejeição dói, e magoa, e destrói. A rejeição é dura demais para uma vida tão curta, tão frágil, tão inesperada. A rejeição endurece-nos com a sua dureza e brusquidão.

E agora? O que é que acontece?

i had an idea!

segunda-feira, 14 de abril de 2008

My eyes are wide open.

domingo, 6 de abril de 2008

Ovo branco


"Hoje quero que pintem este ovo. Aqueles de vocês que não estão acostumados a pintar podem usar lápis de cor ou giz."
Olhei para o ovo em cima da mesa. Estava disposto sobre um pedaço de seda branca. Olhei para a mão cheia de lápis que a Susan Boone tinha deixado em cima do meu banco. Não havia um único branco.
Suspirei e levantei a mão.
Bem, o que é que eu podia fazer? Quero dizer, esta mulher tinha-me, praticamente, chantageado para eu voltar à aula e quando eu regresse ela nem sequer me dá um lápis de cor branca... no entanto, ela esperava que eu desenhasse o que via? Quero dizer, eu devo aprender as regras antes de as infrigir, mas isto não me parecia provável que isto estivesse na lista de regras.
"Sim, Sam." disse Susan aproximando-se do meu banco.
"Sim" disse eu, baixando a minha mão "Eu não tenho um lápis de cor branca."
"Não, não tens" retorquiu a Susan Boone. A seguir limitou-se a sorrir e começou a afastar-se.
"Espere" disse eu, consciente de que o David, que estava sentado a meu lado, estava provavelmente a ouvir. Ele parecia bastante absorvido no seu próprio quadro, o qual ele tinha começado logo que a Susan Boone tinha parado de falar para a aula, mas nunca se sabia.
"Como é suposto eu pintar um ovo branco sobre um tecido branco quando não tenho um lápis branco?" Não pretendi parecer lamurienta, ou coisa parecida. Eu realmente não conseguia perceber o que era que a Susan Boone queria. Quero dizer, era suposto eu trabalhar em espaço negativo, ou algo assim? Apenas pôr em sombras e deixar o resto em branco?
Com isto a Susan Boone olhou para o ovo. A seguir disse a coisa mais espantosa que eu tinha ouvido entretanto, e eu tinha ouvido coisas bastante espantosas nos últimos tempos, a maior das quais foi a da minha melhor amiga, a Catherine, querer fazer parte das betinhas.
"Não vejo nenhuma cor branca aqui" disse a Susan Boone calmamente.
Olhei para ela como se ela fosse louca. Porquê, aquele ovo e aquele tecido eram brancos como... bem, tão brancos como o cabelo dela a ondear pelos ombros abaixo.
"Lembra-te do que eu disse, Sam" respondeu. "Desenha o que vês, não o que sabes. Tu sabes que está um ovo branco sobre um tecido branco em frente de ti. Mas tu vês realmente algum branco lá? Ou vês o cor-de-rosa reflectido do sol na janela? Ou o azul e o púrpura das sombras por debaixo do ovo? O amarelo da luz por cima, que é reflectida na curva cimeira do ovo? O verde-pálido onde a seda encontra a mesa? Estas são as cores que eu vejo. Nenhum branco. Nada mesmo branco."
Não me pareceu que, em nenhuma parte do discurso, houvesse algo remotamente com vestígios de uma tentativa de reprimir a minha criatividade e estilos naturais. Tu tens de aprender as regras, tinha o David comentado, antes de as poderes infrigir. A Susan Boone tinha realmente tentado, exactamente como ele tinha dito, induzir-me a ver.
Por isso olhei. Esforcei-me a olhar. Ainda mais, realmente, do que alguma vez eu tinha olhado para alguma coisa antes.
E vi.
Parecia ridículo, eu sei. Quero dizer, eu sempre tinha sido capaz de ver. Tenho uma visão de 20 x 20.
Mas de repente vi.
Vim a sombra púrpura por baixo do ovo.
Vi a luz cor-de-rosa do Sol através da janela.
E até vi a pequena lua de luz amarela reflectida no cimo do ovo.
E assim, mexendo-me muito de depressa, peguei no primeiro lápis que encontrei e comecei a esboçar.

Em "Uma Menina Igual às Outras", de Meg Cabot