É como aqueles momentos em camas de hospitais.
Trata-se de um alguém que está deitado numa cama. E é velho. E está só. E não faz nada senão viver. E existe.
Mas é alguém que vai tendo as enfermeiras ao pé.
Umas que entram no seu quarto, a tagarelar sem um fim próximo e outras que sem mais nada agarram na sua mão a fazer festinhas como se fosse a tarefa das 16 horas da tarde.
Todas borradas de medo de fazer uma pergunta que seja sobre esse alguém porque sabem que é (mais um) velho deitado numa cama de hospital que não faz nada senão estar acordado e ter a consciência que apenas está a existir, praguejando a toda a hora na sua cabeça que o que mais lhe apetece é fugir dali p’ra fora.
Todas a arrastar a voz como que se fosse mais animador quando na verdade faz perder a paciência porque demora-se 3 minutos a ouvir algo de 30 segundos.
Todas com conversas do dia solarengo ou dos mexericos da vida nos corredores hospitalares sobre a médica que deixou cair o estetoscópio no chão e rachou a saia enquanto apanhava. Todas com discursos do mais puro nada a cumprir a tarefa das quatro da tarde.
Então esse alguém tem de fazer alguma coisa.
Então
espera por alguém.
Porque o que se quer é ter alguém.
Não importa o tempo que faz, o discurso que tem, a beleza que traz.
O que se quer é alguém que se chegue à nossa beira e que se faça sentir. Que não precise de dizer nada e que estenda a mão junto da nossa sem a tocar.
Porque sem uma palavra dizer, pergunta a esse velho que existe se quer alguma coisa.
Porque se ele quiser, ele que estenda a mão e que agarre.
Porque a companhia está lá. Está presente. É um presente.
Ele só precisa de a ir agarrando de vez em quando.
Umas vezes é um toque, outras, um simples poisar, um cruzar de dedos ou ser um forte aperto que nos toca até ao coração.
É como aqueles momentos em camas de hospitais.
Trata-se de alguém que está deitado numa cama. Mas que não é velho. Não está só. E que vive.
Faz mais que existir mas no entanto espera por alguém. Que se faça sentir. Que mostre a sua mão e o seu punho ao pé da mão e do punho dessa pessoa.
Para que seja preciso apenas agarrar quando é preciso, afastar os lençóis e ajudar a levantar da cama.
Depois disso vem um banho e tudo ficará melhor.
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