quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Episódio V - Urbanismo


O chão - calçada portuguesa.
Reluzente das lixívias e das águas que o lavam; puído do pó que acumula, diferente do de casa; manchado, das pastilhas negras do tempo, nódoas feitas por nós, lixo; azul e branco amarelado, sem nunca perder ou mudar de cor. Original.
Ao andar pela avenida vou passando pela vida.
O cheiro perfumado da frutaria à direita com cada fruta e vegental mais suculento que o anterior, num convite a comprar tudo enquanto salivamos da boca, à esquerda, uma montra de ovos moles com o cheiro intenso e viciante do pão acabado de fazer - quase que se ouve o estalar do pão ainda quente e a fumegar.
Com cuidado - uma passadeira.
Atravessa-se e continua-se a andar.
Sapataria, loja dos chineses, sapataria...
Passado dez minutos, estúdio 2000 à esquerda e wang te à direita.
À medida que o tempo avança o vento já por si frio intensifica-se. Perde-se o calor bonito e bem-vindo do sol.
Desvio à direita e além à esquerda - a multidão que tenta apanhar um autocarro ou que não conduz.
O som de um carro parado, dos que movimentam na estrada. O shh de um autocarro a passar por cima de uma poça de água a encostar à direita para, de novo, carregar cm mais umas formigas trabalhadoras (desta vez de regresso a casa) e o tsss mais o seu ronco quando parte.
O vento que despenteia.
Levantar mais os pés para escapar uma dona de uma loja que pacientemente lava a entrada da sua lojinha (uma sapataria?) com uma vassoura de pelos amarelos, rijos e espumados.
Pegadas molhadas.
Outra vez - passadeira.
Chão azul e de pedra.
É pedonal.
E outra vez - atravessar a estrada. Contudo, sem passadeira. Para quê quando a distância é tão curta?
Um pão-de-ló assume orgulhosamente o seu papel, inchado e dourado.
A fome do final de tarde ataca. Não nos podemos deixar levar.
O crsh de eventuais folhas secas, caídas e esquecidas.
De vez em quando, o cheiro impestável da ria.
É o que torna único e diferente, este centro urbano "vilesco".
Por fim, calçada, alcatrão e calçada de novo.
Sobe-se a rampa e os sons são outros.
Um esguichar de vapor e os avisos robóticos dos comboios e das pessoas monótonas e habituadas àquelas andanças. No entanto, para alguns, a melodia é outra. - o estar mais perto da sua família.

sábado, 22 de setembro de 2007

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

devaneio

E porque eu não sou perfeita....
...não sei o que fazer

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Episódio IV: Limbo-Testemunha


Ouvia música no meu ipod. Estava na parte de trás do autocarro, sentada na cadeira mais à esquerda para quem entra no autocarro.
Tinha um top amarelo, banal e liso e calças de ganga com umas sapatilhas amarelas da minha irmã.
Saí do autocarro na paragem do Botânico, ao lado do João de Deus, mas não entrei no jardim.

Segui paralelamente ao muro gradeado.

Sabia bem apanhar a brisa do vento de encontro à minha cara com a (pequena) velocidade a que ia.
Tenho um passo rápido mas sem me deixar gozar o momento.

Entro na porta lateral do Botânico, com a estátua de Avelar Brotero a impor-se a mim. Fez-me sentir nostálgica pois fez-me lembrar o quão insegura estou, sem saber onde me encaixo nesta altura da vida e saber que uma coisa era certa: a escola a que deu nome já não era minha.

Sentei-me num banco de pedra. Era vulgar, cinzento e às manchas da velhice lenta e poluída.
Fiquei de pernas cruzadas, "à chinesa", à espera de ver um cãozinho branco a saltitar seguido da companhia com quem me iria encontrar e de repente, completamente paralizada de prazer.

Por cima estava o Verão em pleno e por baixo o Outono já se estendia.
Olhei para cima, para as folhas verdes, ainda presas nos ramos fortes. Pendiam sobre a minha cabeça.
Olhei para baixo. Já haviam folhas vermelhas e amarelas e laranjas. Mas não eram vermelhas-castanhas, amarelas-castanhas e laranjas-castanhas como as que se vêem à beira da estrada quando passamos de carro por elas, embrenhados no stress do nosso dia-a-dia, todas molhadas, amorfanhadas e rasgadas. Eram mesmo vermelhas e mesmo amarelas e mesmo laranjas. Tinham luz e embora já no chão, tinham vida. Eram perfeitas.

Pensei no Verão que este ano não aconteceu em pleno e no Outono que ainda estava para vir; mas rapidamente fui cortada do meu pensamento pois ao meu redor as folhas começaram a cair. Uma por uma, às vezes duas, iam caindo. Todas à minha volta, a "espiralar", a rodopiar, a planar, foram caindo...

Aí não me mexia, quase. Mudava irrequietamente a cabeça, apenas, para as poder ver todas. Sentia-me a testemunha de que o Outono estava a chegar, mesmo estando um dia bonito de sol, num jardim de ambiente mágico, sem ser ainda dia 21 de Setembro.

A certa altura fui interrompida por uma mensagem que me fez sair do banco cinzento e vulgar onde estava, na companhia de Avelar Brotero. Levantei-me, olhei mais uma vez para as folhas verdes e disse-lhes adeus pois sabia que era uma questão de tempo de ser tornarem vermelhas, amarelas e laranjas como as que já haviam no chão.

Dei três passos, baixei-me e peguei numa folha amarela. Era simétrica, não era nem grossa de mais, nem fina de mais nem irregular. Não tinha relevo anormal sem ser as suas veias, também simétricas. A sua cor era de um amarelo intenso mas nada brilhante, nem claro nem escuro de mais.
Depois fui andando ao longo da alameda, ladeada pelo muro gradeado e por um jardim imponente, passeando num chão de terra batida, ao lado das folhas vermelhas, amarelas e laranjas (algumas voaram quando passei por elas), a brincar com a folha amarela numa mão, ouvindo música no meu ipod, sentido-me feliz por ter sido a testemunha.
Não podia ter sido um momento mais perfeito nem numa paisagem mais bela.
12.09.2007

A folha amarela hoje... (14.09.2007)

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

hoje, agora

a primeira chuvada de Setembro...

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Home



When do you really get to go

First you must go walking on your own

Maybe then we already are home

Row row row your boat
Gently down the stream
Row row row your boat
Gently down the stream
Gently down the stream now
Gently down the stream
Gently down the stream now
Gently down the stream
Gently down the stream now
Gently down the stream


Alexi Murdoch

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Episódio III: Fins de semana

Imagino...
longos fins de semana...

Uns a pintar no meu atlier e tu, na tua pausa para o lanche, farto de trabalhar para o teu novo projecto, com os olhos cansados de estar no computador e de copo na mão vens ter comigo. Por incrível que pareça, estou de jardineiras azuis claras, todas pintadas.
O sol brilha lá fora e a luz entra directamente por uma janela perto do tecto que faz incidir a luz no quadro.
No atlier estou eu, o cão a dois m de mim, junto ao quadro, o cavalete com a tela e as tintas ao lado e mais nada. As paredes brancas estavam malhadas das cores do arco-íris. Paira uma paz requintada e melancolicamente animada na divisão.
Dei uns retoques ao quadro com a mão, depois segurei a palete e com a boca segurava um pincel.
Abriste a porta no momento em que eu acabava de retocar o quadro com a mão. Olhei para trás, sorri e falei animadamente contigo com palavras mal pronunciadas de ter o pincel na boca.
Tinhas uma t-shirt branca e jeans "à dread". Aproximas-te de mim pelas costas, deste-me um beijo na bochecha direita enquanto observavas o quadro e falávamos aberta e descontraidamente.
Estavas cansado, notava-se. Começaste a fazer comentários, uns elogios e algumas críticas. Depois abusaste, assim... na brincadeira!
Olhei para ti com os olhos a brincar, tal como tu, e com um ar gozão e malandro pincelei-te o nariz de azul.
Ficaste admirado mas não por muito tempo. Atiraste-te para cima de mim, o copo foi pelo ar e caímos juntos para o chão. Eu caí da cadeira, tu que estavas em pé junto de mim, ficaste por cima de mim. O gato que tinha entrado e instalado a apanhar um bocado de sol desapareceu mal ouviu o estrondo do copo na parede oposta e mal viu os primeiros tiros de tinta pelo ar. A água escorria pela parede abaixo do local do embate.
Rebolámos e fizémos cócegas um ao outro. Os baldes de tinta estavam todos abertos e deitados no chão a verter litros de tinta colorida. O cão só ladrava. Rosa, amarelo, laranja, verde, azul, roxo, branco, conza, castanho... fusões... as paredes estavam escandalosamente garridas.
A arfar, deitámo-nos de costas para baixo, um ao lado do outro. Tinhas o cabelo espetado e amarelo e a cara verde e azul e umas pintas de rosa. O resto ficou tudo de todas as cores. Eu tinha o cabelo verde viscoso e a pingar, a cara estava vermelha e rosa e amarela nas bochechas e com uma mão ainda numa lata de tinta.
Rimo-nos até não termos mais ar e nos doer a barriga.
Sentíamo-nos porcos, peganhentos e felizes.
Depois desta balbúrdia quem é que não fica?
Depois de tomarmos um banho e de nos pormos a ver um filme deitados no sofá relaxadamente à noite, o cão deitou-se no chão, de baixo de ti, com a cabeça entre as patas e o gato foi para cima de mim até que vimos uma mancha amrela na sua orelha!
Olhémos um para o outro, rimo-nos e foste dar banho ao gato enquanto eu preparava chocolate quente para os dois.

Outros fins-de-semana eram passados a trabalhar. Tu, sentado na cadeira com o portátil na mesa, perto da cozinha e eu a fazer a mesma coisa no sofá.
às vezes davas-me umas dicas, outras vezes acabávamos em discussão e outras vezes limitávamo-nosa estar calados.
Se não eras tu, era eu que te dava dicas e ideias, a rir, a gesticular ou a desenhar esboços que aceitavas, ponderavas muitas vezes ou recusavas.
Era só o tec tec tec do teclar e uns ocasionais: AH! JÁ SEI! E depois a caneta ou o lápis a arranhar o papel furiosamente com a pressa para que a ideia não fugisse da nossa cabeça. Acabávamos os dias contigo a fazeresme festinhas na cabeça enquanto vemos filmes sem jeto nenhum pois não teríamos paciência para ver outro tipo de filmes.

terça-feira, 21 de agosto de 2007

Porcelain


In my dreams I'm dying all the time

As I wake its kaleidoscopic mind
I never meant to hurt you
I never meant to lie
So this is goodbye
This is goodbye

Tell the truth you never wanted me
Tell me

In my dreams I'm jealous all the time
As I wake I'm going out of my mind
Going out of my mind
Moby

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

mudam-se os tempos

E se todo o mundo é composto de mudança
Troquemos-lhe as voltas, que 'inda o dia é uma criança

(Luís de Camões, José Mário Branco & Jean Sommer, in "Mudam-se os tempos...")

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Perigo de Explosão

É melhor fechares os olhos,
meu amor,
antes
que o mundo inteiro seja um incêndio.

Os ventos todos fechados.
Os ventos todos fechados dentro da minha mão.
Quantos ciclones queres ?

Procurava
nos outros
a ternura,
mas só encontrava
poços cheios
de ódio
e nitroglicerina.

Aquele poema,
ao contrário dos outros,
tinha pólvora.
Só lhe faltava
o rastilho.

Éramos rebeldes por sistema,
a sonhar uma revoluçao por dia.
À tardinha,
na esplanada,
bebiamos um cocktail molotov.

O terrorista
apaixonado carregava,
às
escondidas,
uma bomba-relógio.
Era
no peito.
Era o
coração...

domingo, 12 de agosto de 2007

Grão de arroz colorido

Hoje passeei pelos corredores campestres da Pampilhosa.
À medida que ia passando sentia-me viver enquanto o que via parecia parado no tempo. Sentia-me como um grão de arroz num mundo a preto e branco.

Olhei para a direita e vi o café onde ia com a minha família depois de almoço. Enquanto tinham conversas de adultos e bebiam o seu café, punha-me debruçada num banco (na altura da minha altura) forrado a cabedal preto, com os pés a impulsionarem para poder girar cada vez mais rápido. E todos os dias, enquanto os adultos eram adultos eu girava no banco, estando de saia, vestido, calças ou calções, insistindo em ser criança!

À esquerda, quase em frente ao café, havia um caminho privado pedonal. Adorava esse caminho! Sentia-me especial porque achava que era das poucas pessoas que sabia que era um atalho para a casa da minha avó. É verdade que quase ninguém por lá passa. Mas eu era tão pequenina e aquele caminho tão irregular que era uma delícia enfiar-me por ali, onde só cabe uma pessoa, ladeado por muros enoormes, onde havia sempre gatos selvagens, ervas esmagadas, comida p animas espalhada no chão, terra e pedrinhas.

Perto de onde estava havia o coreto. Olhei para lá e vi uma data de velhotes com ar amistoso a jogar o "jogo da malha" (ainda em preto e branco), porque a cores vi só um caminho em terra batida e pedras com poeira no ar.

Ao seguir esse caminho fui dar à rampa que dá à casa da minha avó. É uma rampa em excelente mau estado que contornava uma horta típica da terra, transformada agora numa vivenda vulgar. Por ser tão horrível, eu a minha irmã e o meu primo punhamo-nos a descer a grande velocidade nas nossas bicicletas (que iam constantemente à loja de reparações por causa dos pneus furados...)...

A casa da minha avó é perfeita como num conto de fadas.
A preto e branco: O portão de madeira branco, um pouco pesado que só fica aberto (para os carros passarem e estacionarem) se tiver pedregulhos grandes a prender no chão; a nespereira cheia de folhas secas no chão (um dos grandes passatempos era pegar no ancinho, fazer um monte com as folhas e deleitar-me com o chão em terra castanho-avermelhada com os troços feitos pelo ancinho), o caminho cheio de mini-malmequeres e relva que dá para a parte de trás da casa e para o quintal (onde me deitava no skate do meu primo a apnhar banhos de sol com um chapéu de palha em cima da cara); as papoilas gigantes (que não são papoilas mas é da família) plantadas na berma do caminho de pedras que dá à porta da casa; a comida ou tijela de leite para os gatos vadios junto às hortências na entrada da casa; a casa branca com trepadeiras verdejantes, o quintal cheio de vida e cor, cheio de compartimentos para as couves ou laranjas..., o tanque de pedra com bagas vermelhas venenosas que arrancava para atirar aos carros que passavam pela estrada adjacente à propriedade, a pequenina árvore do azevinho rodeada de pedras para a proteger, a figueira que em setembro nos enchia os pratos de figos pingo-de-mel maduros que me faziam impressão na língua de tanto os comer, o chorão com as folhas até ao chão (era como uma casa!) ao lado do portão que punha fim ao mágico quintal...

A cores: O portão de madeira verde entreaberto, a nespereira cheia de folhas no chão coberto de pedrinhas brancas, tal como o caminho que vai dar ao resto do quintal, o caminho quase invisível de pedras, a comida ou tijela de leita para os gatos vadios junto às hortências que diminuíram de número, a casa cor de rosa pálida com trepadeiras verdejantes, o quintal com ar meio abandonado mas ainda cheio de vida, o tanque de pedra, agora cheio de ervas e ramos por cima sem bagas para atirar aos carros que passam, a figueira, agora velha, mas que ainda nos mantém de pança cheia e doce, o chorão morto pelo mal que começava a causar à estrada, ao lado do portão enferrujado, que mal abre, cheio de lama e outras coisas assim feias que já praticamente não nos deixam passar para fora do quintal...

Por dentro nem menciono, pois não entrei lá.
Contudo, passei pelo adro da igreja. (onde se vai de encontro, depois de se passar o portão) Estava cheio de gente da missa mas a preto e branco estava vazio, comigo a andar de bicleta por lá...

Por fim, à frente, estava a casa dos meus pais. É muito bonita. Branca, alta, velha... Mas só vi a porta verde com as janelas fechadas, com rendinha branca atrás, os três pedregulhos altos a servirem de escada e o fóssil que existe na soleira da porta, muito macio e de certa forma, bonito. Contudo, também não entrei lá, por isso não entrarei em pormenores.

Passei a esquina da casa, passando pelo mini-mercado do Sr. Alfredo que tem tudo o que se possa imaginar, olhando para o resto da aldeia no lado esquerdo, pensando nas imagens do meu avô e no lado direito o resto da nossa casa mais a casa da madrinha e a frutaria da Júlia. Por fora não há diferença na saturação das imagens, a não ser o jardim da madrinha, que é em cima no "1º andar" da parte de fora da casa que dantes se viam plantas a lutar para mais espaço e agora apenas os vasos brancos, grandes e pesados a precisar de uma esfregadela...

Aí entrei, mas só um bocadinho.
Á medida que rodava a chava sentia por dentro um medo, ou excitação, um não-sei-quê que despertava em mim.

A casa estava escura, cinzenta, inabitável. (e não me estou a referir à minha visão a preto e branco). Estava coberta de pó e teias de aranha velhas, tábuas velhas, escada com 15 degraus altos e velhos, tudo velho.

Engoli em seco e fiquei parada a olhar.

Olhei para as escadas com que sonhava num sonho que era atirar-me de cima num vestido azul e branco que se abria formando um pára-quedas como a alice no país das maravilhas aterrando em cima do tapete (daqueles que picam) sentada à chinesa. Olhei para a porta fechada da adega, um pequeno compartimento cheio de caixas e garrafas mais cinzentas que verdes do pó. Olhei para uma divisão à esquerda, ainda mais escura que o resto da casa, cheia de tralha que faz ligação com a nossa casa e olhei para a direita. Outrora iluminada e cheia de artefactos pois era usada como um museu, agora com mais tralha e mais pó e mais escuridão.

Não avancei muito mais. Também não precisava. Dali, conseguia ver muito bem, o meu preto e branco, o meu sépia, a minha infância.

terça-feira, 7 de agosto de 2007

dolce fare niente

sábado, 28 de julho de 2007

Un petit peu simple...



Ali estava eu: toda coberta de uma camada (ou várias) de sujidade. Sentia-me como que um ser humano instantâneo: à base de água e pó.
E enquanto procurava rede que nem uma dependente das tecnologias; apareceu.
Era pequenina mas dava bem para ver umas corezinhas.

Uma borboleta.

Não era mágica, nem tinha pós de prelimpimpim a construírem o seu vôo, nem era de cores vivas, alegres ou berrantes. Era uma simples borboleta em tons-terra.
Pairou un petit peu à minha frente até que finalmente assentou no meu pé.
Eu que há muito que queria ser escolhida por uma borboleta grande e azul e completamente irreal que poisasse na ponta do meu nariz. (E ter uma foto disso)

Não era uma grande borboleta azul nem poisou na pontinha do meu nariz de modo a que a pudesse ver com olhos bem abertos mas fui escolhida à mesma por uma muito melhor: simples.
Era simples e pequenina e não foi escolher o sítio mais bonito para se estar. Era um pé maquilhado de terra e pós e mais umas misturas naturais num chinelo flip-flop velho, gasto já com missangas perdidas pelo mundo fora.

E o nosso encontro foi espectacular. Nada como um bocado de companhia para nos sentirmos melhor. Foi uma reunião muda e simples. Não teve grande intensidade mas foi especial.

Depois do miminho dado investigou muito brevemente a pedra onde estava sentada, deu um beijinho à minha perna e disse-me adeus sobrevoando a minha cabeça, dirigindo-se para a minha esquerda, perdendo-se na vegetação.

sábado, 30 de junho de 2007

Episódio II: Dança das sementes


Estamos imóveis num recanto de um jardim mágico e mítico. É um espaço pequeno, rodeado de muros de pedra e terra, altos, recheados de pequenas aberturas por onde saem umas ervitas e de árvores solenes, silenciosas, pesadas de um verde escuro.
É tudo labiríntico e escondido.

Somos quatro e no entanto ninguém fala. Ficamos a olhar uns para os outros.
Está um dia meio enublado mas cheio de luz. Há bastante vento. Mas não arrepia, nem incomoda, nem se impõe.
O chão é de uma relva curtinha e verde, intercalada com uns toquezinhos castanhos da terra. É frio mas não está húmido, não arrepia e não incomoda.
Espalhado por todo o espaço existem inúmeros dentes-de-leão. Imensos, ínumeros, infinitos! Não deixam ver a relva e a terra que existe, transformando o chão em bolinhas macias e coloridas como o algodão. A terra deixa de ser verde e castanha e passa a ser amarela clara e rosa e cor-de-pele e cor-de-laranja e branca e azul claro e em outros tons pastel...

O tempo é esquisito.
Pelos ares vêem-se uns ao sabor da sorte, ao sabor do destino.

Continuamos sempre, os quatro, imóveis, olhando uns para os outros. Tinham chegado lá como que numa brincadeira, uma caça, uma apanhada, um desejo.

Somos duas raparigas e dois rapazes. Ambas de cabelo comprido e ambos de cabelo curto, mas não em demasia. Elas de branco e eles em tons castanhos. Elas baixas e eles altos, sem exceder o comprimento natural do ser humano. Todos descalços, a sentir cada fragmento da Natureza.
Uma fugia. Sou eu. Sem pressa. Sem saber. Passeava. Sou a mais alta das duas.
Outro seguia-me. (se era desejo de a surpreender, não cabe a mim decidi-lo.) Procurava-me numa calma frenética.
A outra dupla passeava em conjunto e a sós.
Encontram-se.
Mas a surpresa e o choque não existem. Ninguém ficou espantado nem admirados. Cada um permaneceu completamente sereno e nem por sombras que pairava desconforto ou rejeição.
Sorria muito ao de leve. Estava feliz pela outra. Esta, estava radiante, sem o demonstrar.
Eles, sentiam-se plenos. Partilhavam a tranquilidade geral.

Neste momento, o jardim mítico, labiríntico e misterioso tornara-se num descampado. As cores resplandeciam num brilho baço e triunfal. O sol transformara-se numa bola de dentes-de-leão em vários tons de amarelo, à espera que o vento disparasse, dispersando-o em inúmeras sementes flutuantes.

Planava no ar, gargalhadas distantes e genuínas. Um som que demonstra o passado.
Olhava o casal. A mais baixa olhava para a sua companheira, ora por contentamento, ora por euforia. Eles olhavam para ambas, ora ambiguamente, ora avidamente.
Ninguém mexia um músculo, ninguém pestanejava, ninguém cortava o silêncio, ninguém ousava. Apenas se viam sementes ocasionais de várias cores passar à frente uns dos outros. Culpa da brisa.

Agora, o vento agitou, esperneou, dançou, girou e rodopiou! Correntes em todas as direcções! Sementes por todo o lado! Para cima, para o lado, para o ar! Confusão, explosão de cores! O sol implodiu! A terra ergueu-se em sementes confusas e disparadas! Era magia! Era alegria! Era euforia ao máximo! Natureza no seu esplendor...

No entanto, ninguém se mexia. O vento despenteava-nos sem nunca quebrar os olhares trocados, a tensão, o clímax humano.
Olhava-os e sentia-me olhada. As sementes rodeavam-nos, tocava-nos suavemente na pele. Não havia reflexos.
Apenas a dança exótica e sem sentido das sementes em rumo incerto...
Ora cercavam os quatro ora aos casais...

Era uma maravilha... uma magia incerta, colorida, irreal e estonteante...

"E pintar com quantas cores o vento tem..."

sexta-feira, 29 de junho de 2007

quarta-feira, 27 de junho de 2007

I'd rather dance with you than talk with you



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I'd rather dance with you than talk with you
So why don't we just move into the other room
There's space for us to shake, and hey, I like this tune
Even if I could hear what you said
I doubt my reply would be interesting for you to hear
Because I haven't read a single book all year
And the only film I saw, I didn't like it at all
I'd rather dance,
I'd rather dance than talk with you
I'd rather dance,
I'd rather dance than talk with you
I'd rather dance,
I'd rather dance than talk with you
The music's too loud and the noise from the crowd
Increases the chance of misinterpretation
So let your hips do the talking
I'll make you laugh by acting like the guy who sings
And you'll make me smile by really getting into the swing
Getting into the swing, getting into the swing
Getting into the swing, getting into the swing
Getting into the swing, getting into the swing
Getting into the swing, getting into the swing...
(Getting to the swing...)
I'd rather dance,
I'd rather dance than talk with you
I'd rather dance,
I'd rather dance than talk with you
I'd rather dance,
I'd rather dance than talk with you
I'd rather dance,
I'd rather dance than talk with you
I'd rather dance with you
I'd rather dance with you
I'd rather dance with you
Kings of Convenience

domingo, 17 de junho de 2007

último dia de aulas


08.06.2007

segunda-feira, 11 de junho de 2007

Liberdade

sinto-me a voar... e tu?

aterrei aos trambulhões...

mas voaste?


sim... devo dizer que agora estou de novo nas nuvens e não sei como descer... :/

sábado, 2 de junho de 2007

Caminho

Será o caminho em linha recta, o melhor?

quarta-feira, 30 de maio de 2007

Espelho

Ela pensa que é feliz...
...viva...
...saudável...

No fundo, ela não sabe quem é...
...no que se tornou...
...nem no que se pode tornar.

Ela pode desaparecer...

Ela não quer ver e acha-se despreocupada...
Mas no fundo vive como uma abelha atarefada...
Ela põe tudo à sua frente...
...tudo à frente para não ter de ser ver...
...para não pensar em nela...

Ela rejeita a realidade, a vida, os amigos...
...tudo porque pensa ser feliz e viva e saudável...



...mas não é.