quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Episódio V - Urbanismo


O chão - calçada portuguesa.
Reluzente das lixívias e das águas que o lavam; puído do pó que acumula, diferente do de casa; manchado, das pastilhas negras do tempo, nódoas feitas por nós, lixo; azul e branco amarelado, sem nunca perder ou mudar de cor. Original.
Ao andar pela avenida vou passando pela vida.
O cheiro perfumado da frutaria à direita com cada fruta e vegental mais suculento que o anterior, num convite a comprar tudo enquanto salivamos da boca, à esquerda, uma montra de ovos moles com o cheiro intenso e viciante do pão acabado de fazer - quase que se ouve o estalar do pão ainda quente e a fumegar.
Com cuidado - uma passadeira.
Atravessa-se e continua-se a andar.
Sapataria, loja dos chineses, sapataria...
Passado dez minutos, estúdio 2000 à esquerda e wang te à direita.
À medida que o tempo avança o vento já por si frio intensifica-se. Perde-se o calor bonito e bem-vindo do sol.
Desvio à direita e além à esquerda - a multidão que tenta apanhar um autocarro ou que não conduz.
O som de um carro parado, dos que movimentam na estrada. O shh de um autocarro a passar por cima de uma poça de água a encostar à direita para, de novo, carregar cm mais umas formigas trabalhadoras (desta vez de regresso a casa) e o tsss mais o seu ronco quando parte.
O vento que despenteia.
Levantar mais os pés para escapar uma dona de uma loja que pacientemente lava a entrada da sua lojinha (uma sapataria?) com uma vassoura de pelos amarelos, rijos e espumados.
Pegadas molhadas.
Outra vez - passadeira.
Chão azul e de pedra.
É pedonal.
E outra vez - atravessar a estrada. Contudo, sem passadeira. Para quê quando a distância é tão curta?
Um pão-de-ló assume orgulhosamente o seu papel, inchado e dourado.
A fome do final de tarde ataca. Não nos podemos deixar levar.
O crsh de eventuais folhas secas, caídas e esquecidas.
De vez em quando, o cheiro impestável da ria.
É o que torna único e diferente, este centro urbano "vilesco".
Por fim, calçada, alcatrão e calçada de novo.
Sobe-se a rampa e os sons são outros.
Um esguichar de vapor e os avisos robóticos dos comboios e das pessoas monótonas e habituadas àquelas andanças. No entanto, para alguns, a melodia é outra. - o estar mais perto da sua família.

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