segunda-feira, 9 de junho de 2014

Nó na garganta

Cada um de nós é um novelo de lã. 
E se calhar é por isso que temos tantos problemas, porque  por mais que saibamos que a solução passe pela simplicidade de um fio, um fio que se emaranha em si, continuamos a criar nós, de fio a pavio. 

Somos um novelo que se vai desenrolado, sem eira nem beira, sem rumo por onde passar. Um novelo que se gasta e desgasta, se torna mais forte, envolve-se, entrança-se, cria raízes. Cada um de nós é um fio de lã, que ata e desata, que dá o nó quando se casa, que prende, que aperta, que segura.

Cada um de nós é um fio de lã. 
Desatamos a correr, paralelamente, anos a fio. Cruzamo-nos. Passamos por cima, por baixo. Enrolamo-nos com outros fios. Criamos nós entre nós, rompemos, rebolamos para outros lados, outros caminhos, até voltarmos a desenrolar em paralelo com outros fios de lã e gerarmos outros nós.

Somos um novelo que quando se desenrola, com uma molinha se adicionam memórias. Memórias boas, memórias más. Fotografias. Momentos. Cartas. Pensamentos. Eventos. Pessoas. E por isso é que à medida que vamos vivendo, a vida se vai tornando pesada.

Cada um de nós é um fio de lã. 
Queimamos-nos, desfiamos-nos. Mas dos nós que damos fazemos laços que se desfiam pela vida abaixo. Novos novelos. Nov'elos de outras cores.

Somos um novelo que umas vezes está na linha e outras vezes está por um fio.

Cada um de nós é um fio de lã 
até perder o fio à meada. Até ao final da linha.

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