sábado, 16 de agosto de 2008

Sometimes, I close my eyes and I remember.

Sentada, no quarto do meu pai, umas vezes no escuro, outras vezes deixava-me ser vista por mim mesma.
Escondida do mundo, entre um vidro turvo e uns cortinados finos brancos. Inatingível.
Dava uso aos meus talentos mal principiados e mal acabados. A minha alma artística surgia veloz com toda a naturalidade.
Ali, no degrau da janela ou sentada na grande cama de casal de colcha branca, umas vezes fofa, outras vezes bordada, concentrava-me e abstraía-me do Presente.
Por vezes agarrada à flauta de biesel de plástico, e mais tarde, a de madeira, deixa-me ir com os canticos aprendidos do Virgílio ou com as melodias maioritariamente alemães ou holandesas.
Noutras alturas ficava sozinha com a minha voz.
Mergulhava nas músicas de Sérgio Godinho, Fausto, da "bíblia" do Mocamfe, relembrando os tempos dos acampamentos de verão, arranhando uns acordes, umas vezes dedilhados, outros (muito)mal tocados. Ou então simplesmente ficava-me com as músicas da Disney, gravando-me num mini-gravador que tinha, detestando a minha voz, ouvindo-me "masoquistamente". O Rei Leão foi um sucesso.
Divagava. Refugiava-me ali.
Muitos poemas e textos e pensamentos me visitavam a cabeça.

Deixando a Arte de fora.
Confrontei-me com realidades, medos, memórias e momentos partilhados ao telefone. Bons e maus momentos.
Passei por agonias, seguidas de mimos familiares e caprichos infantis. (muitas foram as vezes que me apoderei da cama gigantesca quando adoecia, por vezes partilhada com a minha irmã)

Sentia-me em paz. Mesmo deitada no tapete, no chão.
Sentia-me segura.

Ainda me sinto.

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