São várias gotas, vários terços, dois sapatos, dois pés.
Um pé Um terço
Num pé meu Um terço de uma gota Ressalta e divide-se em três. Cada gota cai num sapato Sinto os meus pés húmidos. Não sinto a chuva nos pés. Gotas caem nos meus sapatos. Levo uma saia rodada e sapatos de salto pretos. Caminho sobre passeios imundos ou irregulares. Chove.
Paralisou. O seu olhar estava fixo no vazio. Não conseguia pronunciar uma só palavra, um só inspirar, um só olhar. O seu coração tinha parado no tempo. A sua pele rosada reflectia a luz matinal que entrava pela janela à sua esquerda. O seu vestido de noiva imaculado permanecia imóvel. No meio desta perplexidade física e mental sabia que precisava de reagir. De chorar. De fugir. De fechar os olhos e voltar a acordar. Um movimento de mão, um abrir a boca, um pestanejar. Nada lhe ocorria. Séria, estática, aguardava. Esperava ordens, instruções. Esperava dirigirem-lhe a palavra.
Lentamente, como se fosse de pedra, com movimentos perros e enferrujados, levantou o seu braço branco, frágil e delicado e puxou o seu véu para a frente. Na esperança que a cobrisse a vergonha e o vexame. Como se aquele pedaço de tule branco e transparente a tapasse da realidade, das visões que via, do que ouvia. Como se pudesse refugiar, finalmente e finalmente pudesse fechar os olhos. Como se, de repente, pudesse ficar em paz para expelir toda a infelicidade e amargura.