Ela pensa que é feliz...No fundo, ela não sabe quem é...
Ela pode desaparecer...
Ela não quer ver e acha-se despreocupada...
Ela rejeita a realidade, a vida, os amigos...
Ela pensa que é feliz...É uma mulher.
Não é uma criança,
Nem adolescente nem infantil nem velha demais!
É mulher!
E é para se dizer alto e bom som!
Para que todos o saibam!
É uma mulher!!
Com orgulho!
E levanta pesos, e faz musculação e vota e trabalha e trata das fraldas sujas das crianças que dá à luz!
E passa a ferro as camisas de trabalho do homem e as suas também!
É uma.
É ela.
É mulher.
É mulher!!!!!!
Chega!
Com o olhar fixo e sedento fechou a porta com violência e com uma mão só. O estrondo foi seco e breve. Era um cubículo pequeno apenas com uma lâmpada pendente do tecto que abana ao mínimo toque. Olhavam-se muito seriamente. Ela com um vestido curto vermelho e sensual com uma alça já descaída no braço. Ele de chapéu cinzento, camisa branca com o colarinho desapertado e calças pretas. Os sapatos? Sabiam lá onde paravam!... talvez perdidos no chão do teatro... Num ápice, agarraram-se! Ele pegando-a pela coxa larga e macia e segurando o pescoço com os caracóis já meios desfeitos e ela, com uma mão no pescoço dele e com outra nas costas dele. A mão dele toca-lhe suavemente na perna. Sensualidade, excitação, desejo, ânsia, ardor, paixão! O cubículo parecia que tinha uma bomba-relógio emocional prestes a explodir. A celulite não o demovia. A pele dela era macia e branca. Ela esforçava-se para não ceder ao desejo. Agarrava cada vez mais o pescoço dele, o cabelo curto, o perfume de homem... AI! A Loucura! Arrancou-lhe o chapéu da cabeça. Pensou em mandá-lo ao ar mas pensou melhor. Pô-lo na sua cabeça e olhou-o sensualmente. Ele parou de a beijar para a olhar no seu esplendor. Era bela, mesmo não sendo uma super modelo, dentro deste cubículo onde a luz se mexe pela lâmpada que insiste em não parar quieta. Atacam-se ferozmente aos lábios um do outro. A bomba explodiu. As imperfeições não se notavam. Estavam cegos de excitação. E mesmo ali, em pé, no cubículo pequeno só com a lâmpada ele a possuiu. Penetrou-a com tanta força quanto amor ele nutria por ela. Onde está a vergonha nesta acção tão natural e própria do Homem? Porque inibirem-se? Para preconceitos e julgamentos já existe o mundo do outro lado de fora da porta do cubículo! Ali estava-se bem. Ficaram durante bastante tempo a saborear os cheiros característicos do acto, a saborear o momento, os miminhos... Ela com o chapéu dele na cabeça e ele com o baton dela nos seus lábios... No escuro ele murmura... Celui qui donne vite donne deux fois?

| Nouvelle Vague - T... |
Tenho fases, como a lua
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.
Fases que vão e que vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.
E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua...)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu...