"Hoje quero que pintem este ovo. Aqueles de vocês que não estão acostumados a pintar podem usar lápis de cor ou giz."
Olhei para o ovo em cima da mesa. Estava disposto sobre um pedaço de seda branca. Olhei para a mão cheia de lápis que a Susan Boone tinha deixado em cima do meu banco. Não havia um único branco.
Suspirei e levantei a mão.
Bem, o que é que eu podia fazer? Quero dizer, esta mulher tinha-me, praticamente, chantageado para eu voltar à aula e quando eu regresse ela nem sequer me dá um lápis de cor branca... no entanto, ela esperava que eu desenhasse o que via? Quero dizer, eu devo aprender as regras antes de as infrigir, mas isto não me parecia provável que isto estivesse na lista de regras.
"Sim, Sam." disse Susan aproximando-se do meu banco.
"Sim" disse eu, baixando a minha mão "Eu não tenho um lápis de cor branca."
"Não, não tens" retorquiu a Susan Boone. A seguir limitou-se a sorrir e começou a afastar-se.
"Espere" disse eu, consciente de que o David, que estava sentado a meu lado, estava provavelmente a ouvir. Ele parecia bastante absorvido no seu próprio quadro, o qual ele tinha começado logo que a Susan Boone tinha parado de falar para a aula, mas nunca se sabia.
"Como é suposto eu pintar um ovo branco sobre um tecido branco quando não tenho um lápis branco?" Não pretendi parecer lamurienta, ou coisa parecida. Eu realmente não conseguia perceber o que era que a Susan Boone queria. Quero dizer, era suposto eu trabalhar em espaço negativo, ou algo assim? Apenas pôr em sombras e deixar o resto em branco?
Com isto a Susan Boone olhou para o ovo. A seguir disse a coisa mais espantosa que eu tinha ouvido entretanto, e eu tinha ouvido coisas bastante espantosas nos últimos tempos, a maior das quais foi a da minha melhor amiga, a Catherine, querer fazer parte das betinhas.
"Não vejo nenhuma cor branca aqui" disse a Susan Boone calmamente.
Olhei para ela como se ela fosse louca. Porquê, aquele ovo e aquele tecido eram brancos como... bem, tão brancos como o cabelo dela a ondear pelos ombros abaixo.
"Lembra-te do que eu disse, Sam" respondeu. "Desenha o que vês, não o que sabes. Tu sabes que está um ovo branco sobre um tecido branco em frente de ti. Mas tu vês realmente algum branco lá? Ou vês o cor-de-rosa reflectido do sol na janela? Ou o azul e o púrpura das sombras por debaixo do ovo? O amarelo da luz por cima, que é reflectida na curva cimeira do ovo? O verde-pálido onde a seda encontra a mesa? Estas são as cores que eu vejo. Nenhum branco. Nada mesmo branco."
Não me pareceu que, em nenhuma parte do discurso, houvesse algo remotamente com vestígios de uma tentativa de reprimir a minha criatividade e estilos naturais. Tu tens de aprender as regras, tinha o David comentado, antes de as poderes infrigir. A Susan Boone tinha realmente tentado, exactamente como ele tinha dito, induzir-me a ver.
Por isso olhei. Esforcei-me a olhar. Ainda mais, realmente, do que alguma vez eu tinha olhado para alguma coisa antes.
E vi.
Parecia ridículo, eu sei. Quero dizer, eu sempre tinha sido capaz de ver. Tenho uma visão de 20 x 20.
Mas de repente vi.
Vim a sombra púrpura por baixo do ovo.
Vi a luz cor-de-rosa do Sol através da janela.
E até vi a pequena lua de luz amarela reflectida no cimo do ovo.
E assim, mexendo-me muito de depressa, peguei no primeiro lápis que encontrei e comecei a esboçar.
Em "Uma Menina Igual às Outras", de Meg Cabot
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