quinta-feira, 17 de abril de 2008

Descasca à indecisão - Episódio XIII

Chovia a potes.
Num passo decidido marchava de noite. Cabelos a pingarem pelo pescoço abaixo.
Fugia.
A confusão era muita.
Chocava com pessoas de todo o lado. Altas, baixas, gordas, magras. Felizes, infelizes. Todos passavam e chocavam e corriam e salpicavam. Tudo mexia. Vultos negros à sua volta.
Não olhava em frente. Tentava, lutava para não cair numa poça e banhar-se em lama. Se tropeçasse, ficaria por terra.
A roupa colava-se e dificultava os movimentos do seu corpo. Agora a luta era contra si mesma. Detestava a chuva. Não queria estar ali.
Apercebeu-se que a seguiam. Parou quando lhe barraram o caminho. Era uma pessoa baixa e loira. Não tinha o olhar de quem julga, de quem analisa, de quem vai fazer algo para impedir. Simplesmente fez com que ela parasse de andar.
Um grupo seguia-se. Ainda eram vários.
Não conseguiu sentir raiva, frustração, tristeza ou pena. Não sabia como reagir. Só soube ficar imóvel, tentando abrir os olhos naquela chuva torrencial.
Eles pararam a conversa ao mesmo tempo que pararam. Todos olhavam para ela. Ela olhava para ele. Ele olhava para ela. A pessoa baixinha olhava para os outros.

Tanto tempo já se passou, tanta troca de olhares e ninguém avança?
Há sempre qualquer coisa no meio! Porquê tanta indecisão?
É tão fácil por um ponto final numa história. É tão fácil acabar com um final feliz.
É tão fácil!
Porquê tanta indecisão?! Porquê ainda parar e observar? Porquê ainda a hesitação?

Vai fugir? Vai dizer alguma coisa?
Reage! Reage depressa!
E ele? Vai fugir? Vai dizer alguma coisa?
Agarra! Agarra depressa!

É tão fácil a teoria.

Porque é que nos faltam as palavras? Porque é que gostamos tanto dos livros e dos filmes dos finais felizes? Porque é possível? Numa hipótese remota? É isso? Porque podem existir?? São livros! São filmes! Tudo pode existir!
Porque é que temos tanto medo? Temos medo de tudo, somos uns medricas! Rejeição?
Apetece-me dizer que a vida já é dura suficientemente para nos preocuparmos com uma simples rejeição. Apetece-me dizer que vamos apanhar com rejeições ao longo da vida e por isso não podemos dar tanta importância. Apetece-me dizer que a rejeição torna-nos mais fortes.
Mas a rejeição dói, e magoa, e destrói. A rejeição é dura demais para uma vida tão curta, tão frágil, tão inesperada. A rejeição endurece-nos com a sua dureza e brusquidão.

E agora? O que é que acontece?

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